quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

EVANGELIZAÇÃO, MISSÃO DA IGREJA


Que sentido tem um “projecto de evangelização” na Igreja ?

Por um lado, falar em ‘projecto’, poderia parecer restritivo, pois a Igreja deve colocar em prática a proposta do Evangelho de Jesus no seu todo: poderia parecer que a Igreja não tem já um ‘projecto’ de acção… De facto, não é isso: um projecto de evangelização, sem deixar de atender à globalidade da missão, ajuda a concentrar os esforços para responder melhor às necessidades e urgências do momento. A nível mundial, temos várias situações que desafiam a missão evangelizadora da Igreja; a experiência da fé e da vida eclesial pouco profunda deixa os baptizados com uma identidade cristã e católica muito fraca e com um escasso sentido de pertença à Igreja; e disso decorre, entre outras coisas, o escasso impulso missionário e o empenho cristão na transformação da sociedade não suficientemente assumido; decorre também o fácil abandono da fé ou a busca, noutras partes de respostas às profundas interrogações existenciais e religiosas, desconhecendo e deixando de procurá-las na própria comunidade católica. É necessária uma acção missionaria mais incisiva, organizada e constante; e um projecto de evangelização pode contribuir para alcançar isso.


• Em que consiste um ‘projecto’

Um projecto procurará traduzir na prática os conceitos ‘evangelizar’ e ‘proclamar a Boa Nova de Jesus Cristo’. A fé e a atitude cristã nascem do encontro vital com a pessoa de Jesus Cristo, caminho, verdade e vida: ele é a ‘boa noticia’ de Deus para a pessoa, a comunidade e para a sociedade; n’Ele vemos espelhado o rosto de Deus e Ele nos revela o coração do Pai; por Ele recebemos o Espírito de Deus, que nos torna capazes de traduzir em ‘vida nova’ nossa fé, já neste mundo. A evangelização, antes de propor uma ‘doutrina’, precisa de ajudar as pessoas a terem este encontro pessoal com Cristo, mediante o anuncio do Evangelho; a doutrina, a proposta moral e a orientação da vida inteira ‘no caminho’ de Jesus decorrem desse encontro e da aceitação da pessoa de Jesus, como o ‘Enviado de Deus, cheio do Espírito Santo’, para a vida do mundo.


• Quer dizer que um projecto estará voltado para os que já são cristãos e participam na vida da Igreja ?

Será, uma proposta missionária, voltada para atingir os que não participam da vida eclesial. Não podemos ficar indiferentes diante dos muitos cristãos baptizados, que nunca foram ‘incluídos’ devidamente na vida cristã e eclesial. Mas quem deverá fazer isto? Certamente isto é esperado por aqueles que participam nas nossas comunidades. A eles, em primeiro lugar, devia ser proposto um novo e aprofundado encontro com Jesus Cristo, para descobrirem a alegria de crer e de pertencer à Igreja, e para sentirem o desejo de contagiar outros com a própria fé.


• Como fazer com que cada católico se sinta um missionário ?

‘Ninguém dá o que não tem’… Para se ter o missionário e o apostolo, é preciso formar antes o cristão e o discípulo. Se pretendermos que todos os baptizados sejam apóstolos e abracem a proposta do Evangelho na vida pessoal e a tornem mais presente e operante nas estruturas da vida social, precisamos de ajudar os cristãos a terem uma experiência profunda, alegre e convicta de Deus, através de Jesus Cristo, e também da vida eclesial; se queremos os frutos da fé, precisamos de alimentar a vida cristã. E isto faz parte de um projecto de evangelização.


• Um projecto tem que falar nas suas directrizes, daquilo que é permanente na vida eclesial: o anuncio da Palavra, a liturgia (sacramentos, especialmente a Eucaristia) e a caridade: de que maneira isto entra num projecto ?

Um projecto de evangelização não pretende, nem pode parar a vida eclesial; aquilo que é permanente, continua; mas também aí pode ser colocado um novo ‘acento’ e um novo enfoque, de maneira que o ‘ordinário’ da vida cristã e eclesial, experimentado em profundidade e de maneira renovada, manifeste a profundidade e a alegria serena e contagiante da fé, levando ao impulso missionário. O quotidiano da vida eclesial atinge, normalmente, os baptizados que frequentam as comunidades e se destina a alimentar neles a fé e a esperança, e a animá-los na caridade. É necessário que o encontro com a Palavra de Deus, a celebração dos mistérios da fé nos sacramentos e a prática da caridade sejam vitais e tragam uma forte motivação para os que crêem, para continuarem a crer, e para aprofundarem a comunhão com Deus e com os irmãos. Mas não nos podemos contentar com os que já frequentam as nossas comunidades; se perdermos a dimensão missionária concreta e efectiva, a Igreja vai empobrecendo-se e perdendo vitalidade.


• Um projecto deixará de lado a preocupação social, tão característica da Igreja, para concentrar-se somente sobre na sua vida interna ?

Não, certamente. A presença da Igreja nas muitas realidades do mundo e da vida social faz parte e é essencial na sua missão; os discípulos de Cristo são enviados para serem ‘fermento, sal e luz’ do Evangelho no mundo; da mesma forma, a actuação da Igreja em favor da pessoa, de maneira muito especial em relação aos pobres e necessitados de todos os tipos, é parte da missão da Igreja, à imitação daquilo que fazia Jesus Cristo. De facto, era desejável que a presença da Igreja no mundo pudesse aprofundar-se e ampliar-se ainda mais, segundo as orientações da doutrina social do Magistério; por isso era necessário propor, de maneira renovada, os fundamentos e os motivos evangélicos desta actuação cristã na sociedade, para que nela apareçam sempre mais os sinais do reino de Deus, que é a vida plena para todas as pessoas.


• Quais são os eixos centrais dum projecto ?

Ao longo dos anos, um projecto deverá prever a promoção da verdadeira identidade e dignidade da pessoa humana, a renovação da comunidade nos níveis mais básicos da convivência humana e a construção da sociedade solidária: isso tudo mediante o encontro com Jesus Cristo e a sua Palavra. Para cada ano haveria uma frase do Evangelho, como lema; ao mesmo tempo, haveria a indicação de acções e programas.


• De que maneira um projecto poderia alcançar os seus objectivos ?

O êxito de um projecto dependerá de uma motivação a ser despertada nos católicos; por isso é possível esperar que se possa colocar em pratica aquilo que o Papa pediu na Carta Apostólica “Novo Millennio Ineunte”: que cada católico se sinta missionário; que cada comunidade da Igreja seja orientada para uma nova missionariedade.


• ‘Para Evangelizar o Mundo, necessita-se de apóstolos “peritos” na celebração, adoração e contemplação da Eucaristia’
(João Paulo II)


• ‘O encontro com Cristo continuamente aprofundado na intimidade eucarística, suscita na Igreja e em cada cristão a urgência de testemunhar e evangelizar’
(João Paulo II)






Hélder M. Gonçalves
 
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