quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CIDADANIA, IDENTIDADE e DIFERENÇAS



A relação entre o meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada vez mais desafiador, exigindo a emergência de atitudes aos complexos riscos ambientais que se intensificam.

As políticas ambientais relacionadas à consciencialização sobre a crise ambiental exigem cada vez mais novas chamadas de atenção de uma realidade contraditória e geradora de desigualdades que transcendem a mera aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis.

O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis – formal e não-formal, ou seja, governamental e não governamental.

Assim, a educação ambiental deve ser acima de tudo um acto político voltado para a transformação social.

A sua atenção deve procurar uma perspectiva em que relacione o homem, a natureza e o universo, tomando como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem.

Quando referimo-nos à educação ambiental e a situamos num contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configura-se como elemento determinante para consolidar o conceito de sujeito cidadão.

O desafio de fortalecer a cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se a partir da possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e converter-se, portanto, em actor co-responsável pela defesa da qualidade de vida.

O eixo principal de actuação na educação ambiental deve procurar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença, através de formas democráticas de actuação baseadas em práticas interactivas e dialogadas.

Isso consubstancia-se no objectivo de criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo da nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e colectivos.

Mas como relacionar a educação ambiental com a cidadania?

Cidadania tem a ver com pertencer a uma colectividade e criar uma identidade com ela.

A educação ambiental, como formação e exercício de cidadania, tem a ver com uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens.

A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária.

O que é que tem sido feito em termos de educação ambiental?

A grande maioria das actividades é feita dentro de uma modalidade formal, governamental, do poder político.

Os temas predominantes são sempre: o lixo, os ecopontos, a proteção da área vegetal, acções para consciencializar a população em relação à poluição do ar.

A educação ambiental que tem sido desenvolvida no país é muito diversificada e é ainda muito restrita à presença dos órgãos governamentais, como articuladores, coordenadores e promotores de acções ambientais.

O grande salto de qualidade tem sido dado pelas ONG, (organização não governamental) centradas principalmente em acções com a população infantil e juvenil a nível mundial.

A lista de acções é interminável, e essas referências são indicativas de práticas inovadoras centradas na preocupação de incrementar a co-responsabilidade das pessoas em todas as faixas etárias e grupos sociais quanto à importância de formar cidadãos cada vez mais comprometidos com a defesa da vida.

A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para que transformem as diversas formas de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade, baseada na educação para a participação.

O desafio da construção de uma cidadania activa configura-se como elemento determinante para constituir e fortalecer sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assumam a importante missão de abrir novos espaços de participação.

A administração dos riscos sócio-ambientais coloca cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento público através de iniciativas que possibilitem um aumento do nível de consciência ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista.

A educação ambiental deve reforçar de forma crescente a “agenda marrom” A  Agenda Marrom foi a primeira nos finais dos anos 70 inícios dos anos 80, depois veio a Agenda 21 nos inícios dos anos 90 e finais dos anos 90 o Protocolo de Quioto, que já foi revisto e é o que perdura até hoje - enfatizando os problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da qualidade de vida nas cidades e não só.

"prevenção e controle da degradação ambiental decorrente de actividades poluidoras, e pelo desempenho de actividades correspondentes, como a realização de estudos e pesquisas sobre poluição, qualidade do ar, da água e do solo" “Agenda Marrom”

Uma vez que se observa que é cada vez mais difícil manter a qualidade de vida nas cidades e noutros lugares, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e colectivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável.

A educação ambiental, como componente de uma cidadania abrangente, está relacionada com uma nova forma da relação homem - natureza.

Nesse sentido, a dimensão quotidiana da educação ambiental leva a pensá-la como somatório de práticas e, consequentemente, a entendê-la na dimensão da sua potencial generalização para o conjunto da sociedade.

Entende-se que essa generalização de práticas ambientais só será possível se estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos quotidianos.

A problemática sócio-ambiental, ao questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a participação democrática da sociedade na gestão dos seus recursos actuais e potenciais, assim como no processo de tomada de decisões para a escolha de novos estilos de vida e a construção de futuros possíveis, da óptica da sustentabilidade ecológica e da equidade social.

Torna-se cada vez mais necessário consolidar novos paradigmas educacionais para iluminar a realidade, e isso supõe a formulação de novos objectos de referência conceituais e, principalmente, a transformação de atitudes.

Um dos grandes desafios é ampliar a dinâmica interactiva entre a população e o poder público, uma vez que isso pode potencializar uma crescente e necessária articulação com os governos, no que se refere ao desenvolvimento de práticas preventivas no plano ambiental.




A obra de Deus é uma “casa” maravilhosa, cheia de beleza e providência, prodígio divino, que devemos contemplar e louvar.

“E Deus viu que tudo que tinha feito era muito bom” (Gen 1,10)

Face à gravidade de toda a realidade ecológica, na sua crescente devastação, nasce uma indignação ética, que tem a sua origem na luta contra a poluição do ar e da água.

Urge pensar na criação, com uma nova mentalidade espiritual, que se assegure e tenha o seu fundamento no Evangelho e na pessoa de Jesus Cristo.

Ao mesmo tempo em que estamos abertos ao diálogo, indo ao encontro do Sagrado, em todas as suas expressões ou confissões que revelam e manifestam o sentido da transcendência, na religiosidade de todas as raças e de todos os povos da terra.

Temos consciência que nos dias de hoje, o nosso modo de evangelizar deve ser o do consenso, de que todas as raças, culturas e religiões devem ser respeitadas e valorizadas.

Eis que somos chamados a responder a esses grandes desafios através da nossa fé no Deus único e verdadeiro.

O mundo deveria ser uma casa pródiga, e oferecer à criatura humana, e aos demais seres vivos da terra, todas as condições: crescimento, sobrevivência e plena realização.

Um mundo harmonioso, em que todos vivessem de acordo com a vontade do seu Criador e Pai.

Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2008, Bento XVI - "a família precisa duma casa, dum ambiente à sua medida onde tecer as próprias relações. No caso da família humana, esta casa é a terra, o ambiente que Deus criador nos deu para que o habitássemos com criatividade e responsabilidade".

Para nós que temos fé, a Sagrada Escritura, leva-nos a louvar a grandeza e a bondade de Deus, Senhor de um mundo tão rico, vasto e belo.

Os livros dos Provérbios e da Sabedoria exaltam a grandeza do próprio Deus, presente e oculto nas maravilhas da natureza ( Pro 8, 22-31; Sab 13, 1-3).

22O Senhor criou-me, como pri¬mí¬cias das suas obras, desde o princípio, antes que crias¬se coisa alguma. 23Desde a eternidade fui for¬mada, desde as origens, antes dos pri¬mórdios da terra. 24Ainda não havia os abismos e eu já tinha sido concebida; ainda as fontes das águas não ti¬nham brotado; 25antes que as montanhas fossem implantadas, antes de haver outeiros, eu já ti¬nha nascido. 26Ainda Ele não tinha criado a terra nem os campos, nem os primeiros elementos do mundo. 27Quando Ele formava os céus, ali estava eu; quando colocava a abóbada por cima do abismo, 28quando condensava as nuvens, nas alturas, quando continha as fontes do abis¬mo, 29quando fixava ao mar os seus li¬mites, para que as águas não ultra¬pas¬sassem a sua orla; quando assentou os fundamentos da terra, 30eu estava com Ele como arqui¬tecto, e era o seu encanto, todos os dias, brincando continuamente em sua presença; 31brincava sobre a superfície da Terra, e as minhas delícias é estar junto dos seres humanos. (Pro 8, 22-31)

1Sim, insensatos são todos aque¬les homens em que se instalou a ignorância de Deus e que, a partir dos bens visíveis, não foram capazes de descobrir aquele que é, nem, considerando as obras, reco¬nheceram o Artífice. 2Antes foi o fogo, o vento ou o ar subtil, a abóbada estrelada, ou a água impetuosa, ou os luzeiros do céu que toma¬ram por deuses, governadores do mundo. 3Se, fascinados pela sua beleza, os tomaram por deuses, aprendam quão mais belo que tudo é o Senhor, pois foi o próprio autor da beleza que os criou. (Sab 13, 1-3)

Mas a exploração desenfreada e gananciosa que o homem realiza, nas suas acções, no que diz respeito aos madeireiros, aos exploradores de minas, de grandes terrenos agricolas e grandes empresas internacionais, é de facto para destruir todo esse património, que é de toda humanidade, que é desafiada a proteger e a conservar.

Hoje, mais do que nunca, temos que reconhecer a forte presença de Deus, na vida existente no planeta, vida muitas vezes não valorizada e mal cuidada, extremamente comprometida.

Deus quer abrir a nossa mente e o nosso coração diante dos gritos, dores e gemidos da terra, grande casa e mãe, onde se encontram: “rios e mares, antes gigantescos úteros de vida, que vêm a ser esterilizados pela poluição industrial, pelos esgotos, pelo lixo produzido pelo ser humano.

Como diz em Romanos “Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente” (Rom 8,22)

Esquece-se que a água, fonte de vida, transforma-se facilmente numa das piores fontes de morte, ao transmitir doenças.

Por ela navegam germes de morte até os confins da terra”.

Não é somente uma moda do momento ou uma moda teológica e espiritual, o tema da ecologia e da vida que se sustenta no planeta.

É um tema presente, que manifesta-se e encarna-se no dia a dia das pessoas não deixando dúvida, que é uma preocupação crucial para o nosso destino, o destino da humanidade.

De tal modo que é preciso enfrentá-lo com segurança e convicção, com paixão e fé, desenvolvendo a espiritualidade da confiança e coragem, ao mesmo tempo em que não se afaste de um São Francisco de Assis, homem cheio de ternura, compassivo e humilde, entrando, como o seu exemplo, em comunhão e diálogo com as realidades existentes na criação, começando com a própria natureza.

Temos gosto em possuir no mundo, a maior floresta tropical e a maior biodiversidade do mundo.

A Amazónia, muito ameaçada, mas ainda é o grande pulmao da humanidade.

Mas, toda essa riqueza está ameaçada pela destruição da floresta e de outros ecossistemas, por grandes projectos, pela expansão de grandes campos agricolas.

Somos convidados por Deus e nosso Pai a participar desse processo, bebendo da mesma água que bebeu a mulher samaritana.

A água que nos é oferecida é o Verbo Encarnado, agindo dentro de nós, a dizer-nos que somos sujeitos da nossa própria história.

Somos chamados a evitar os efeitos devastadores que nos envolvem, participando nas mudanças climáticas, que é o ponto chave para o futuro da humanidade.

“Quem beber da água que lhe darei nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água, jorrando para a vida eterna (Jo 4, 14-15)

Acreditamos, que pela força do nosso compromisso, como cristãos podemos olhar para um mundo que se transforma num actor de grande importância na construção de um novo acordo planetário, para conter os nocivos efeitos desse fenómeno, no contexto internacional.

09.06.2011 - Bento XVI a seis novos Embaixadores - “Há que promover uma séria reflexão e propor soluções concretas e viáveis. O conjunto dos governos devem empenhar-se em proteger a natureza, ajudando-a a desempenhar o seu papel essencial, para a sobrevivência da humanidade”.

Será que o mundo, não consegue fazer ver ao Brasil para parar a destruição da Amazónia?...

Vivemos numa terra, com tudo que ela contém, ainda marcada pelo sofrimento, gemendo com as dores do parto (Rom 8, 22), pela destruição e saque, fruto do capricho, da acção fútil e inconsequente do homem.

Somos convidados não só a pensar e a reflectir sobre essa triste realidade, mas decididamente em nome de Deus, a descruzar os braços e a fazer a nossa parte.

É Deus mesmo que quer ver-nos totalmente convertidos e sensibilizados para essa realidade ecológica, conscientes da nossa identidade e responsabilidade ética para com o planeta, profundamente contaminado e enfermo, com doenças de toda natureza.




Nós somos o resultado de duas heranças. A herança biológica e a herança social.

A herança biológica — produto do Homo sapiens, que tem uma origem de milénios de evolução natural, e que coloca-nos na natureza como um dos constituintes da cadeia alimentar.

Nessa condição estamos submetidos a leis naturais - que não dominamos -, e que regem a evolução dos seres vivos em geral.

E a herança social - produto humano -, que adquirimos enquanto crescemos, que tem a sua origem no tipo de organização e cultura em que vivemos, da forma como nos adaptamos ao meio ambiente.

É resultado de um processo de auto-criação em que, ao mesmo tempo que interagimos com a natureza, criamos a nossa própria existência social, submetidos a forças económicas, sociais e políticas, que não mudam a nossa natureza biológica, mas determinam a forma como suprimos as nossas necessidades biológicas, como desenvolvemos potencialidades e ampliamos o ambiente humano.

A herança social é um produto histórico e como tal vai mudando no decurso do tempo e de um lugar para outro.

É essa combinação do que herdamos da natureza com o que herdamos da sociedade em que vivemos que torna-nos diferentes dos outros seres da criação e dá-nos a capacidade de discernir entre o que é melhor e o que não é, possibilitando actuar sobre a realidade no sentido de transformá-la produzindo assim a evolução social.

Infelizmente, temos usado este poder para piorar o mundo, destruir o meio ambiente dominar e explorar os outros seres da Criação e os nossos próprios semelhantes.

Precisamos agora de fazer o contrário.

Devido às diferenças de lugar, determinadas tanto pela evolução natural quanto pela social, associadas à criatividade humana e à sua capacidade de adaptação, cada povo desenvolveu formas, maneiras, culturas, ideais que variam em função da história de cada um.
 Carta Encíclica “Caritas in veritate” “Caridade na Verdade” em 29.06.2009 - "Não podem ignorar os vindouros, mas devem ser animados pela solidariedade e a justiça entre as gerações, tendo em conta os diversos âmbitos: ecológico, jurídico, económico, político, cultural"

Isso vai determinar maneiras diferentes de interpretar a realidade, de adaptar-se ao meio ambiente, de viver a vida.

Portanto, o que é bom, certo ou verdadeiro num determinado tempo e lugar, mas pode não o ser num outro lugar.

Somos influenciados por essas diferenças e tornamo-nos diferentes uns dos outros, embora iguais em direitos e dignidade.

O facto de sermos diferentes não nos dá o direito de explorar ou humilhar outro semelhante ou julgar-nos superiores a ele como tem acontecido ao longo da historia humana, em que alguns povos sempre se julgaram no direito de escravizar e assassinar outros povos.

E, de uma certa forma, também entre nós, quando usamos as diferenças para discriminar pobres, mulheres, negros, menores, idosos, deficientes físicos e mentais, povos nativos, etc.

As nossas diferenças, ao contrário de serem motivos de fragilidade da espécie humana, são factores de fortalecimento.

Se fôssemos todos iguais, não seríamos capazes de adaptar-nos aos diferentes meios ambientes do planeta.

A riqueza, acumulada com a super exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra humana, não é distribuída igualmente por todos, mas concentra-se nas mãos de uma pequena parcela de pessoas, que conseguem viver com opulência, enquanto que a grande maioria sofre com a miséria e a má qualidade de vida e do seu meio ambiente.

É bom meditar sobre o que um sábio indígena (Hamawt’a) disse um dia: “O dia em que vocês envenenarem o último animal...quando não existirem nem flores, nem pássaros, darão-se conta de que o dinheiro não se come.”

A defesa da ecologia não está dissociada, portanto, da luta pela justiça social e pela melhor distribuição da riqueza.

Não há nenhum mérito numa luta em defesa da natureza que exclua ou deixe em segundo plano as lutas sociais e democráticas, pois é absurda a situação em que menos de 20% da população do planeta vive com luxo e desperdício, consumindo 80% das reservas naturais disponíveis, enquanto que a imensa maioria dos seres humanos vive mal.

Mais de 1/3 - 26% desses passa fome ou de desnutrição, e 3/4 – 60% não têm acesso adequado a água e casa condignas.

A minoria privilegiada do planeta, ou seja 20% da populaçao mundial, na sua quase totalidade de habitantes de países do chamado mundo desenvolvido, produzem um impacto nas reservas de recursos naturais 25 vezes superior ao dos habitantes dos países em desenvolvimento.

Isto tem que fazer pensar-nos.

Portanto, não é verdade dizer que todos destróiem o planeta.

A responsabilidade pela destruição não pode ser igual para todos, pois não é igual o poder de destruir, muito menos o acesso aos frutos desse assalto contra os recursos do planeta.

Este poder está concentrado nas mãos de uma pequena parcela de indivíduos.

Urna minoria, que na sua maior parte é egoísta e ambiciosa, que se acha no direito de continuar a explorar os recursos naturais do planeta e a mão-de-obra dos trabalhadores para acumular lucros avultados em pouco tempo, o mais rápido possivel ao mesmo tempo em que investe todo o esforço do trabalho e os recursos do planeta, não para superar a miséria e injustiças, mas para outros fins menos nobres como, por exemplo, a fabrico de mais armas e arsenais nucleares.

Só o que já existe de armas nucleares dá para destruir o planeta 40 vezes.

A espécie humana, infelizmente, está dividida em explorados — a grande maioria —, e exploradores, que é uma minoria.

Antes os exploradores utilizavam armas, correntes e chicotes para dominar outros povos.

Hoje usam a dívida externa, a dependência tecnológica, as economias transnacionalizadas, a cumplicidade com as elites, a corrupção, a divulgação dos valores dos exploradores através do monopólio dos meios de comunicação social como se fossem valores positivos e universais, para que os explorados não queiram libertar-se, mas, ao contrário, anseiem alcançar o mesmo padrão de vida dos seus dominadores.

E, quando isso não acontece, não culpam os seus dominadores, mas a si próprios, por acharem que não tiveram sorte ou por não terem estudado o suficiente.

Além disso os países ricos e industrializados do Primeiro Mundo enviam para os países pobres a sua tecnologia suja e o seu lixo perigoso a pretexto de gerar empregos e desenvolvimento ao mesmo tempo que divulgam princípios e preocupações ecológicas e acusam os países pobres de destruírem as florestas e o meio ambiente numa atitude no mínimo hipócrita.

Carta Encíclica “Caritas in veritate” “Caridade na Verdade” em 29.06.2009 - "A proteção do ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis internacionais actuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra"

Melhor fariam se mudassem o seu estilo predatório, opulento e egoísta de vida, transferissem tecnologia limpa e despoluidora para os países pobres, investissem mais na eliminação da miséria e do analfabetismo e menos em arsenais bélicos e nucleares.

Apenas 10% do que se gasta com armamentos daria para eliminar a fome e a miséria em todo o mundo.

O sistema de ensino que devia formar cidadãos críticos e conscientes, faz o contrário, auxiliando na domesticação do aluno a pretexto de prepará-lo profissionalmente para uma vaga inexistente, já que o mercado de trabalho está sujeito às regras económicas e não às educacionais.

Na base dessa exploração estão valores culturais e espirituais que deram origem a sistemas económicos em que o egoísmo, a ambição, a inveja, a intolerância, a prepotência, a competitividade desmedida, foram elevados à categoria de virtude.

Mede-se o sucesso de alguém não pelo que ele representa como ser humano, mas pelo dinheiro que tem no banco, pela casa, pelo tamanho da sua piscina, pelas viagens que faz ao exterior, pela quantidade de jóias, pelos carros que tem.

Mede-se a pessoa pelo que tem e não pelo que ela é…

Cultua-se, assim, a competitividade em detrimento da solidariedade, o desperdício em lugar da economia, ainda que, para atingir tais objectivos, seja preciso poluir o planeta, destruir ou desperdiçar recursos naturais e ecossistemas, subjugar outros povos, explorar trabalhadores, subverter os próprios sentimentos.

Não é por falta de consciência ambiental que o planeta é destruído, mas por uma ética distorcida, como a de julgar a nossa espécie superior as demais, superior até à própria natureza, com direito, portanto, de subjugar, explorar, prender, matar, poluir, a fazer o que nos apetece como se estivéssemos acima de tudo isso, como se não pudéssemos ser atingidos pelas pedras que nós próprios atiramos ao ar.

05.04.2011 - Bento XVI em entrevista ao jornalista Peter Seewald para o livro O Sal da Terra “[A] poluição do ambiente exterior que observamos é o espelho e o resultado da poluição do ambiente interior, à qual não prestamos suficiente atenção. Julgo que é também o que falta aos movimentos ecológicos. Combatem com uma paixão compreensível e justificada a poluição do ambiente; a poluição espiritual que o Homem faz a si mesmo continua, pelo contrário, a ser tratada como um dos seus direitos de liberdade. Há aqui uma desigualdade.”

Nós julgamo-nos semelhantes a Deus, mas não fornos capazes de viver em harmonia com os outros seres da Criação, que achamos inferiores a nós.

28.11.2011 - Sumo Pontífice fala a oito mil jovens no Vaticano - “Apelo a um estilo de vida mais responsável a favor da Criação. Estilo de vida que deve começar logo no seio das famílias e na própria escola. É indissociável o respeito pelo ser humano e pela natureza e peço aos jovens para se associarem ao Papa nesta causa, cada vez mais evidente aos olhos de todos.”

Mantivemos durante todo este tempo uma visão da Criação, como se Deus a tivesse criado por um capricho apenas para satisfazer os desejos da nossa espécie.

Os resultados não poderiam ser outros, no processo de dominar a natureza; a pretexto de possibilitar o nosso desenvolvimento, fomos nós que nos tornamo-nos feras de nós mesmos.

Um mundo melhor não começa no outro, começa em nós.

“No Oriente, uma pessoa virtuosa não é aquela que procura concretizar a tarefa impossível de lutar pelo bem e eliminar o mal, mas, sim, aquela que mostra-se capaz de manter um equilíbrio dinâmico entre o bem e o mal.” Fritjof Capra

Até aqui a questão era da nossa espécie contra a natureza.

Acreditou-se que, para preservar a natureza, bastava separar porções de territórios naturais, mantendo-os longe da voracidade humana.

Criou-se, então, os parques e reservas florestais ou naturais, e leis cada vez mais severas para impedir que o ser humano poluísse e destruísse a natureza.

E claro que não adiantou muito; afinal, não existe um guarda para cada cidadão.

O desafio agora é encontrar urna nova ética para a nossa relação com a natureza, da qual não somos mais os usufrutuários, mas partes integrantes.

Temos a nosso favor o facto de ainda ser uma espécie no planeta, com possibilidades de aprender e adaptar-se.

E mais: contamos com a incrível capacidade de regeneração natural do planeta, para quem basta conter a destruição e dar uma “mãozinha", que ele recupera-se logo.

O planeta tem grande capacidade para absorver tudo o que fazemos contra ele. Quem não tem somos nós.

Ou seja, as agressões que fazemos contra a natureza voltam-se contra nós próprios, como bumerangues ecológicos.

É preciso que se diga também que não foram as últimas gerações humanas que destruíram o planeta.

Essa responsabilidade precisa de ser dividida com as outras gerações de nossa espécie desde há 90 mil anos, quando surgimos, e passo a explicar.

Durante os primeiros 80 mil anos fomos caçadores e provavelmente responsáveis pela extinção de muitas espécies.

Depois passamos mais de 10 mil anos como agricultores, abrindo espaço para o fogo na natureza para plantar, gerando excedentes de alimentos que permitiram não só o aumento da população humana, com o surgimento de cidades e, com elas, da cultura da vida em sociedade, da civilização, mas também os engarrafamentos, bairros sociais, super concentração urbana etc.

E claro que nos últimos 200 anos exageramos na dose, pois a destruição ambiental passou da escala artesanal para a escala industrial.

Mensagem para o Dia da Paz 2007, Bento XVI problema do "abastecimento energético". "Nestes anos, novas nações entraram decididamente no sector da produção industrial, aumentando as necessidades energéticas. Isto está a provocar uma corrida sem precedentes aos recursos disponíveis", alertava.

Os seres humanos precisam, agora, de alimentar as máquinas com energia e matérias primas gerando imensa quantidade de lixo, poluição, destruição maciça de espécies vegetais e animais, e nem sequer essa super exploração tem contribuído para o desenvolvimento e o bem-estar da nossa espécie como um todo, mas para o enriquecimento de uns poucos povos e indivíduos privilegiados.

Temos contra nós a capacidade de produzir catástrofes ambientais em grande escala, como os incêndios de poços de petróleo na Guerra do Golfo, a explosão da fábrica nuclear de Chernobyl, as bombas atómicas de Hiroshima e Nagasáqui, as queimadas na Amazónia etc., numa escala muito maior do que aquela que a nossa espécie pode suportar, o que coloca-nos na imposição de não errar novamente.

Os 10 maiores desastres ambientais de sempre são:

1. Chernobyl, Ucrânia, 26 de Abril de 1986

2. Bhopal, na Índia, 3 de Dezembro de 1984

3. Golfo Pérsico, 1991

4. Golfo do México, em Junho de 1979 a Março 1980

5. Província de Henan, China, Agosto de 1975

6. Minamata, no Japão 1928-1968

7. Marinduque, Filipinas, 24 de Março de 1996

8. Mina Grande Roménia, 30 de Janeiro de 2000

9. Meda, Itália, 10 de Julho de 1976

10. Tokai, Japão, 30 de Setembro de 1999

O planeta seguramente será capaz de sobreviver sem nós.

Entretanto, nós com toda a certeza, não sobreviveremos se o planeta tiver os seus ecossistemas vitais comprometidos.

O mundo mais pacífico, justo, fraterno e ecológico que imaginamos não começa no outro, muito menos depende unicamente dos líderes políticos e religiosos, mas começa em nós próprios.

Para ser mais preciso, em nós mesmo, neste exacto momento.

HÉLDER GONÇALVES

domingo, 19 de fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO


ISRAEL, DAS ORIGENS A DAVID


OS PATRIARCAS

1. ORIGENS DO POVO HEBREU

Os 11 primeiros capítulos do Génesis, são narrativas e como tal não são históricos.
As origens do povo hebreu estão relatadas no génesis, um dos livros do Antigo Testamento. Segundo esse livro, os antepassados dos hebreus migraram para Caná, vindos do norte da Mesopotâmia (Haran), estando estabelecidos, anteriormente, na cidade de Ur, na Baixa Mesopotâmia.

O capítulo 12 do génesis ajuda-nos a entender a origem dos hebreus, e Abraão, um dos Patriarcas desse povo. Disse o Senhor a Abraão: “Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos”. Gen 12, 1-2

A história bíblica começa com Abraão em 1800 A.C.

A partir de Abraão começa-se a acreditar num só Deus. Abraão foi o primeiro grande Patriarca, e abriu a época dos grandes Patriarcas seguindo-se Isaac e Jacob.

Os antepassados dos hebreus pertenciam a tribos de pastores semi-nómadas que, por vontade do seu deus, dirigiram-se para Caná, a Terra Prometida, liderados pelos patriarcas, chefes dessas extensas famílias.

A Terra Prometida dos hebreus era um pequeno território próximo do Mar Mediterrâneo e das cadeias montanhosas do Líbano.

Essa região atraía os povos nómadas do Médio Oriente, pois trata-se de um lugar onde a agricultura é possível graças à quantidade de chuvas, rios e fontes. Além disso, era o ponto de convergência das rotas das caravanas de comércio que iam do Egipto para o Médio Oriente.

Quando os antepassados dos hebreus dirigiram-se para Caná, encontraram ali diversos povos em processo de sedentarização. A maior parte era de semitas, como os hebreus, embora pertencessem a grupos diferentes e vindos em épocas distintas.

Apesar dessa variedade, havia uma unidade religiosa, pois, ao menos no início, todos praticavam a religião Cananéia, fortemente naturalista e agrária.

Os antepassados do povo de Israel viviam em tribos, compostas pelo patriarca, pelos seus filhos, mulheres e servos, que se dedicavam ao pastoreio.

No seio de cada tribo, o poder e o prestígio eram personificados pelo patriarca e os contactos com outras tribos eram esporádicas. A religião dos patriarcas caracterizava-se pelo culto do “Deus Pai”.

No Génesis, muitas vezes, aparecem as expressões: “o Deus do meu-teu-seu Pai” ou o “Deus do teu pai Abraão”. O “Deus do pai” era primitivamente o Deus do antepassado imediato que os filhos reconheciam.

Era o Deus de um povo nómada, sem santuário, ligado a um grupo de homens que acompanhava e protegia.

Quando chegaram a Caná, os patriarcas depararam-se com o culto que os habitantes mais antigos da região dedicavam ao deus El, o pai dos deuses e dos homens, criador e governante do Universo.

Com o tempo, essa divindade passou a ser vista pelos hebreus como o deus no qual eles acreditavam. Nascia, assim, uma religião que misturava diversos costumes e pregava a crença num único Deus criador.

Os patriarcas sacrificavam animais, erguiam altares e untavam pedras com óleo em homenagem ao seu Deus. Não existiam sacerdotes. Os animais sacrificados, depois de servidos à divindade, eram comidos pelo patriarca e os seus familiares.


2. O CAMINHO DE ABRAÃO

Abraão saiu da sua terra em obediência a uma ordem de Deus e desceu ao Egipto por iniciativa própria.

O Egipto não era a Terra Prometida, embora fosse a potência da época, cheia de atractivos. Deus não o enviou para lá. Abraão deixou Betel, que significa “Casa de Deus” e “desceu ao Egipto” que simboliza o domínio do inimigo. «Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abraão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo.» Gen 12,10

Abraão foi para o Egipto porque havia fome em Caná.

Deus vem ao encontro de Abraão e faz uma correcção no rumo do Patriarca, fazendo a Aliança com ele, dando-lhe ordens, promessas e direcção. Assim acontece connosco.

A peregrinação de Abraão até à sua morte, percorrendo a terra prometida, “marcando” o território: «Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei.» Gen 13,17

Deus não desiste dos seus filhos por causa dos pecados deles.

Ele corrige-nos e orienta-nos. Contudo, as consequências do pecado perseguem-nos e também por isso devem ser evitados.

O  pecado  de  alguns  minutos 
pode  trazer  prazeres  que  passam  rapidamente, 
e  males  que  duram  a  vida  inteira.


3. FILHOS DE ABRAÃO

Abraão teve vários filhos.

Os mais citados na Bíblia são Ismael, filho de Agar, e Isaac, filho de Sara.

Ismael é considerado o pai dos “ismaelitas”, mais tarde “Povos Árabes”.

Com a descendência de Isaac concretiza-se a “Aliança com Deus”, através dos tempos.

Deus põe à prova a Fé de Abraão e não quer que se sacrifique crianças, pois a Vida é um Dom Sagrado. Israel só tem futuro se obedecer a Deus.

Isaac casa-se com Rebeca, e tiveram dois filhos, Esaú e Jacób.


4. A GUERRA DOS REIS

No livro do Génesis são citados vários reis.

A monarquia era a forma de governo mais comum, senão a única.

Havia nações politicamente organizadas, mas, em algumas regiões, cada cidade era independente e tinha o seu rei, um tipo de “governador”, com o seu próprio exercito e plenos poderes. «No tempo de Amerafel, rei de Chinear, de Arioc, rei de Elassar, de Cadorlaomer, rei de Elam e de Tidal, rei de Goim, O rei de Sodoma, o rei de Gomorra, o rei de Adma, o rei de Seboim e o rei de Bela, que é Soar, saíram e alinharam-se para a batalha contra eles no vale de Sidim, Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo, Gen 14, 1.8.18

Apesar disso os reis eram bastante acessíveis.

Abraão e Isaac encontram-se com alguns reis e, nesses episódios, fica evidente a grandeza dos Patriarcas e a bênção de Deus sobre eles.

No capítulo 20, Abraão destaca-se no encontro com Abimeleque, pois mostra-se espiritualmente superior ao interceder diante de Deus pelo rei.

Nota-se que Abraão tinha o seu próprio exército capaz de sobrepor-se ao exército do rei.

Muito tempo depois, Isaac tornava-se mais poderoso que o rei Abimeleque.  «E Abiméleque disse a Isaac: «Vai-te embora daqui, pois agora és muito mais poderoso do que nós.» Gen 26,16


5. A ALIANÇA DE DEUS COM ABRAÃO

Através de Abraão, Deus deu inicio à execução do seu plano de salvação dos homens. Para que nascesse o Redentor, seria necessário um povo especial que O pudesse receber. O plano de Deus era dar a Abraão uma descendência.

Isto era totalmente contrário à situação daquele homem, que era velho e tinha uma esposa estéril. Tudo contribuía para que ele não tivesse nenhuma esperança de ter um filho. Aliás, isto era impossível.

Deus  põe  á  prova  a    de  Abraão 
e,  põe  á  prova  a  nossa própria  fé.

Contudo, o problema humano não impede o propósito divino.
Deus entra em situações impossíveis e realiza milagres.
Para que Deus realizasse o seu plano em Abraão era necessária uma Aliança.
Deus opera através daqueles que têm um compromisso com Ele.

A fé de Abraão foi o que fez dele uma pessoa especial. Abraão tem uma fé cega, e acredita piedosamente em Deus, mesmo contra as contrariedades da natureza.
Ele não era perfeito, mas tinha fé e o desejo sincero de servir a Deus.
Abraão creu na promessa divina e fez um compromisso com Deus, uma Aliança. «Abraão confiou no SENHOR, e Ele considerou-lhe isso como mérito.» Gen 15,6

A parte de Abraão seria a obediência. A parte de Deus seria dar-lhe um filho e uma terra: Caná. Os limites desta terra são: «Naquele dia, o SENHOR concluiu uma Aliança com Abraão, dizendo-lhe: «Dou esta terra à tua descendência, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates…» Gen 15,18

Abraão creu na promessa. Porém, entre esta e o seu cumprimento existe uma distância, um período de tempo indefinido. «O SENHOR disse-lhe: «Fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e hão-de oprimi-los durante quatrocentos anos. 14*Mas Eu próprio julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois, com grandes riquezas dessa terra. 15Tu, porém, irás em paz reunir-te aos teus pais e serás sepultado após uma ditosa velhice. 16Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui, pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo.» Gen 15,13-16

Uma das maiores dificuldades de todo servo de Deus é conhecer o tempo de Deus e saber esperar. Normalmente, não sabemos quando Deus vai fazer algo e então a espera torna-se muito difícil.
«Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» Gen 17,21
«Haverá alguma coisa que seja impossível para o SENHOR? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» Gen 18,14
«O SENHOR visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho.» Gen 21,1-2


6. O NASCIMENTO DE ISAAC

Aos 100 anos de idade, Abraão teve o seu filho Isaac, conforme Deus lhe havia prometido. «Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho.» Gen 21,5

Isaac nasceu quando Abraão e Sara já não podiam mais gerá-lo por si mesmos.

Além de idosa (90 anos), Sara era estéril. Não havia esperança humana nesse caso.


Quando nasceu Ismael, Abraão tinha 86 anos. Ainda era auto-suficiente.
«Abraão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael.» Gen 16,16

Aos 99 anos, porém, ele já não estava tão certo de que poderia gerar um filho. «Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!» Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão. Abraão tomou Ismael, seu filho, todos quantos haviam nascido na sua casa e todos aqueles que adquirira a dinheiro, todos os indivíduos do sexo masculino da sua casa, e circuncidou-os nesse mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado. Abraão tinha já noventa e nove anos, quando foi circuncidado.» Gen 17,17-24

Quando parece tarde demais, Deus ainda opera. Ele espera que os recursos humanos terminem para que a glória seja só d’Ele.


7. A PROVA DE ABRAÃO, DISPOSTO A SACRIFICAR ISAAC

Para conhecer um pouco mais do carácter de Deus, Abraão precisava de se sacrificar muito mais. Depois da experiência de cortar na própria carne, Abraão teve de encarar a decisão de sacrificar o seu próprio filho.

Certamente, que nenhuma ordem de Deus tinha sido tão difícil até então.
Aquela foi uma oportunidade que Abraão teve de se conhecer um pouco mais de si mesmo. De outro modo, ele nunca saberia de que era capaz na sua caminhada com Deus.

O Senhor apresenta-nos desafios para que a força e a sinceridade da nossa fé se manifeste de modo claro.
A experiência de Abraão e de Isaac no Monte Moriá, pode ser comparada ao sacrifício de Jesus.

Nunca  seremos  fortes 
se  não  passarmos  por  situações  difíceis.

Abraão pode ser visto como “figura” de Deus, o Pai. Isaac representaria Jesus. Assim como Isaac carregou a lenha enquanto subia, Jesus carregou a cruz ao subir o monte Calvário. «Abraão apanhou a lenha destinada ao holocausto, entregou-a ao seu filho Isaac e, levando na mão o fogo e o cutelo, seguiram os dois juntos.» Gen 22,6

Abraão disse aos servos: «Havendo adorado, voltaremos até Vós.» nesta frase, está clara a fé do Patriarca, pois estava convicto de que, mesmo que Isaac morresse, Deus haveria de ressuscitá-lo. Está aí simbolizada a ressurreição de Cristo. «… a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. *De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.» Heb 11,18-19

Naquele momento amargo, Abraão, que já cria na provisão divina, pôde experimentá-la de facto. As tribulações são necessárias para que possamos experimentar aquilo em que acreditamos. Abraão conheceu a Deus um pouco mais: o Deus da provisão.

Ao dispensar o sacrifício de Isaac, Deus mostrou a Abraão e a toda a humanidade que Ele não queria sacrifícios humanos. Até então, isto não estava claro para Abraão. O único sacrifício humano que Deus iria providenciar seria o sacrifício do seu próprio filho, Jesus.


8. JACOB

Dos doze filhos de Jacob, somente José e Benjamim eram filhos de Raquel. A tribo de Jacob era a mais poderosa de Caná. O seu filho José, era muito amado pelo seu pai, e, por isso, invejado pelos irmãos, os quais o venderam a mercadores ismaelitas que o levaram para o Egipto, onde em virtude da sua inteligência e extraordinárias faculdades mediúnicas, torna-se ministro do Faraó.

Encontrando-se com os irmãos faz as pazes e traz toda a família para viver no Egipto, pois havia uma seca muito grande por toda a região de Caná, e assim tornou-se num povo muito numeroso.

Jacob dividiu a “Terra Santa” como um pai de família, em doze partes, uma para cada filho, dando origem às doze tribos israelitas. Esses filhos emprestaram os seus nomes à designação das Tribos. Por exemplo: os levitas (de Levi) eram encarregados das cerimónias religiosas, da formação da tradição oral e escrita e transmissão da fé em Deus.

Havia também os juízes, homens reconhecidamente honestos nas tribos, os quais uniformizavam as leis e julgavam as questões enviadas pelas tribos.

Cada tribo tinha a sua assembleia de anciãos, uma Associação Protectora composta de mais ou menos 50 chefes de família, que se reuniam na “Casa do Pai” e procuravam manter a ordem, o auxílio económico aos mais necessitados, acordos matrimoniais, etc... Cada “Casa do Pai” reunia marido e mulher, parentes e era o próprio chefe de família, que tinha o completo controle social sobre a tribo.

Era nas “Casa do Pai”, que se celebravam a Páscoa.

Então a partir do século XIV A.C., os hebreus estavam divididos em doze tribos, que formavam uma confederação. Essa divisão permaneceu com o seu número fixo, embora variassem de nome. Esse número fixo está ligado às necessidades religiosas, já que cada tribo deveria ocupar-se do culto e do santuário comum durante um mês do ano.

Fosse qual fosse a força dos vínculos que uniam as tribos, elas não estavam organizadas em Estado. Não possuíam uma capital, nem um governo central ou administração, e cada tribo tinha uma ampla autonomia. A autoridade era exercida pelos anciãos de cada uma. Teria sido Jacob, o chefe da ocupação de Caná, ocorrida entre os séculos XVII e XIV A.C.

O tempo de permanência dos hebreus no Egipto, é motivo de controvérsia. Algumas tradições hebraicas falam em mais de 500 anos, outras 250 e até em menos de 100 anos.


ÊXODO

1. INTRODUÇÃO HISTÓRICA


O êxodo histórico do povo de Israel começa por volta do século XIII A.C. O 1º capítulo do êxodo, refere-se a Ramsés II, faraó do Egipto. “Subiu então ao trono do Egipto um novo rei que não conhecera José”. Êx 1,8

Há um espaço de vários séculos entre este facto e os factos que se seguem.

Por isso, o compilador colocou entre eles uma genealogia. Este tipo de literatura com genealogia intercalada é do tipo da tradição sacerdotal. É uma genealogia artificial. Os nomes são epónimos para explicar-lhes a origem. Como a história só foi composta muito tempo depois (séc. VI), eles provavelmente não sabiam mais quem teria sido o primeiro.

Naquela altura, havia muitas lendas e tradições. Por exemplo, com Judá. Quando os hebreus chegaram, já havia lá as montanhas conhecidas como montanhas de Judá. Os que habitaram aquela região ficaram a chamar-se de filhos de Judá, judeus... Contudo, sabe-se que a citação do Êx 1,11 é histórica: “Impuseram-lhe então chefes de trabalhos forçados para o oprimirem com carregamentos. E construiu para o faraó as cidades-armazém de Pitom e Ramsés II.” Êx 1,11 foram cidades construídas no tempo de Ramsés II, que foi um dos maiores faraós e teve um reinado de muito progresso.

Os factos relatados no Êxodo passaram-se, mais precisamente na 19ª dinastia, fundada por Ramsés I. Foi um período de grande prosperidade, extensão de domínios, crescimento... Por causa disto, muita gente migrava da Ásia para lá, inclusive prisioneiros de guerra, e também de outros países vinha gente para trabalhar, para adquirir melhores condições de vida. Então, muitos foram feitos escravos nos empregos a que se incorporaram, com as mudanças na conjuntura política.

Com a decadência do império faraónico, numa certa época fracassou a vigilância e muitos fugiram. Foi mais ou menos neste contexto que se deu a saída dos hebreus do Egipto, contada na Bíblia com toda aquela linguagem mítica e épica. Não foram, portanto, só os Israelitas que fugiram do Egipto naquela ocasião, mas diversos povos que se encontravam num regime de opressão, por serem estrangeiros nas terras do Egipto. A opressão, historicamente, era um facto. A fuga dos escravos, também. Os primeiros capítulos do Êxodo contam a preparação da fuga. E neles há dois factos que serão perpetuamente lembrados: a libertação do Egipto e a Aliança no Sinai.


2. MOISÉS E A SUA EDUCAÇÃO

Moisés nasceu no Egipto e foi criado pela filha do Faraó, e quem lhe deu o nome, ou foi a filha do Faraó ou o próprio Faraó.

O nascimento de Moisés é uma saga etimológica, para explicar o seu nome. Moisés significa «Salvo das Águas» e este nome parece ser de origem Egípcia, daí quando ele foi encontrado no rio Nilo pela filha do Faraó. O seu nome, original, seria Tutmoses, o que significaria ‘filho de Tut’. Eles, certamente subtraíram o primeiro nome, por se identificar com um Deus pagão, e ficou apenas Moses, que deu MOSHE, em hebraico. Historicamente, quase nada consta de Moisés. Mas não há motivos para se negar a sua existência.


3. FUGA DE MOISÉS

Em Êx. 2,11, conta a fuga de Moisés para Madian. “Entretanto, Moisés cresceu, foi ao encontro dos seus irmãos e viu os seus carregamentos. Viu também um egípcio que açoitava um dos seus irmãos hebreus.” Êx 2,11 Ele teria visto um feitor açoitar um israelita que o matou. Foi descoberto e, por isso, obrigado a fugir. O seu romance com Séfora e os relatos associados são uma introdução para apresentar Moisés como vindo do deserto com a missão de salvar o povo.


4. VOCAÇÃO E MISSÃO DE MOISÉS

A narração do Êx 3,1 a 10 refere-se ao monte Horeb que, talvez, já era uma montanha sagrada; e a sarça ardente seria referente a uma árvore sagrada na qual os pagãos ofereciam sacrifícios aos seus deuses.
Um dia, nas imediações do Monte Sinai, o mesmo onde recebeu o Decálogo, anos mais tarde, ouviu o chamamento à sua missão, quando Deus “lhe fala” do meio da sarça ardente; “O Anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada” Ex 3, 2 então Moisés volta ao Egipto com a sua família.

A descida de Deus à terra é através de Moisés. Moisés é chamado por Deus, porque Deus sabe dos problemas do Seu Povo. O capítulo 3 fala da vocação de Moisés, em linguagem mítica, como acontecera aos profetas. “Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. O anjo do SENHOR apareceu-lhe numa chama de fogo, no meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo mas não era devorada. Moisés disse: «Vou adentrar-me para ver esta grande visão: por que razão não se consome a sarça?» O SENHOR viu que ele se adentrava para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés! Moisés!» Ele disse: «Eis-me aqui!» Ele disse: «Não te aproximes daqui; tira as tuas sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa.» E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus. O SENHOR disse: «Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e ouvi o seu clamor diante dos seus inspectores; conheço, na verdade, os seus sofrimentos. Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel, terra do cananeu, do hitita, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu. E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e vi também a tirania que os egípcios exercem sobre eles. 10E agora, vai; Eu te envio ao faraó, e faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel.» Êx 3, 1-10
O hebreu, para dizer que um tal facto era divino, necessitava de visualizar um facto histórico. Todo profeta, quando recebe uma missão de Deus, a princípio recusa. Mas depois, Deus faz a promessa... assim aconteceu com Moisés.

O  chamamento  de  Moisés  foi  significativo, 
tendo  em  vista 
o  seu  passado  e  a  sua  educação.

Nesta altura aparece Moisés que assume este Povo, e a partir daqui deixa de ser escravo, passa a ser livre e a ter direito a uma terra e começa a prestar culto a Deus. O Êxodo começou por volta do ano 1250 A.C. Moisés é de descendência hebraica e foi ele quem libertou o Povo de Deus, e a sua vida reflecte-se nos acontecimentos no Povo de Deus. O que se diz de Moisés, não se pode acrescentar muito, mas os relatos no êxodo também têm algo de Saga e de história.


5. AUTO DEFINIÇÃO DE JAVÉ

A citação “Eu sou aquele que sou” foi sempre interpretada filosoficamente, mas por um aspecto ontológico insinuado muito depois. Deus, na verdade, apenas deixou de citar um nome, por causa do que isto iria significar na mentalidade deles. Os verbos “ser” e “existir” em hebraico distinguem-se apenas por uma letra. Aquele que é, que vive, que existe... são expressões equivalentes.

Javé e Jeová são a tradução verbal do tetragrama que os judeus não pronunciavam. Ao principio, adoptava-se a forma Jeová, pelo seguinte facto. Descobriu-se que pelo excessivo medo de pronunciar o Santo Nome em vão (2º mandamento), todas as vezes que na leitura aparecia o nome de Deus, substituíam-no por outro correspondente. Usavam muito “Adonai” (Senhor) ou “Elion” (Altíssimo). Então, os estudiosos colocaram as vogais da palavra “Adonai” entre as consoantes do tetragrama JV, o que deu Jeová. Posteriormente, descobriu-se que Javé será a forma mais apropriada, e não Jeová.

Numa breve retrospectiva, devemos dizer que sempre ao que analisar um facto distinguiremos duas épocas: o tempo em que o facto realmente aconteceu (sec. XIII) e o tempo em que foi escrito (séc. VI ou V). Há uma grande modificação durante o tempo em que o facto se passou transmitido oralmente, e há também muita projecção de factos da época em que foi escrito, muita estilização.


6. AS PRAGAS

São histórias estilizadas e artificiais. Quando os mais velhos foram contar aos mais novos a história da libertação do Egipto, eles quiseram mostrar muitas vezes a intervenção poderosa de Deus contra o inimigo e assim explicaram os factos com situações fantasiosas.

Que há aqui de histórico ? Cada facto tem relação com algum fenómeno acontecido, mas não na quantidade que a Bíblia relata. Eles transportaram tudo para um tempo determinado e deram uma significação e interpretação religiosa.

Com relação à morte dos primogénitos, certamente que durante o tempo em que os hebreus estiveram lá aconteceu a morte de um filho do Faraó e eles atribuíram também significação religiosa a este facto, como sendo um desígnio divino. Mas o que interessa não é o facto, e sim a interpretação do facto. Eles queriam convencer o leitor de que foi Deus quem fez tudo isso.

A história das pragas evoluiu do tempo em que se passaram historicamente para o tempo em que foi escrita. Na água que se transformou em sangue está o melhor exemplo desta evolução: estão presentes as três tradições (Javista, Eloísta e Sacerdotal). Em Êx. 4,9, diz: “E se suceder que não acreditem nestes dois sinais nem escutem a tua voz, tomarás da água do rio e derramá-la-ás sobre a terra seca; e a água que tiveres tirado do rio transformar-se-á em sangue sobre a terra seca”. Êx 4,9 ‘pouco de água tirada num balde, com a acção de Moisés transformou-se em sangue’ (javista); em 7, 17-19, diz que ‘todo o Nilo se transformou em sangue’. “Assim diz o SENHOR: Nisto reconhecerás que Eu sou o SENHOR: eis que, com a vara que tenho na mão, ferirei as águas que estão no rio, e elas transformar-se-ão em sangue. 18Os peixes que estão no rio morrerão, o rio cheirará mal e os egípcios não poderão beber a água do rio.” Êx 7,17-19 É uma evolução da anterior (sacerdotal). A seguir, diz que ‘todas as águas ficaram vermelhas’. Nota-se nisto tudo uma constante evolução do fenómeno, certamente ocasionado pela tradição oral, antes das histórias serem escritas.


7. INSTITUIÇÃO DA PÁSCOA (CAP. 12)

O autor deste capítulo atira para o tempo de Moisés um rito pascal instituído depois do exílio, usado no templo de Jerusalém. O primeiro versículo é a ligação. “O SENHOR disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto:” Êx 12,1 Será o primeiro mês do ano, isto porque até o tempo de Josias (séc VII) o ano começava no Outono (Outubro), igual ao calendário dos babilónios. Com o reinado de Josias, a festa foi mudada de data para a primavera, a fim de não se confundir com o culto da fertilidade, celebrado pelos pagãos no inicio do ano.

A Páscoa já existia mesmo antes dos Cananeus. A origem da palavra Páscoa vem de “pashá”, que significa coxear, mancar. Daí passou para pular, dançar, festejar, passar por cima, salvar. Páscoa passa a ser a passagem em que Deus protege o Seu primogénito: Israel. Oferece-se o primogénito dos rebanhos e colheitas a Deus, para O louvar. “O anjo de Deus saltou as casas dos hebreus para não lhes fazer mal. “ A festa dos ázimos também era pagã, mas era a festa agrícola correspondente à Páscoa, que era pastoril. O caso de não comer pão com fermento é porque o fermento é a deterioração da matéria, sinal de impureza. Não se sabe como é que depois eles juntaram as duas festas.

A  Páscoa  de Jesus  Cristo, 
passa pela  vida, morte  e ressurreição  
e inclui obrigatoriamente
a Páscoa Judaica  ou  seja  o Êxodo.

O facto narrado em Êx 12,6 é uma alusão á saída do Egipto, “Vós o tereis sob guarda até ao dia catorze deste mês, e toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao crepúsculo.” Êx 12,6 é um rito supersticioso e mágico dos nómadas, para se livrarem de qualquer mau espírito das casas: pintar os umbrais com sangue. O autor do texto coloca aí como se fosse na noite posterior às pragas, na noite da partida.

Na festa dos ázimos. “Durante sete dias comereis pães sem fermento. No primeiro dia, fareis desaparecer o fermento das vossas casas, pois todo aquele que comer pão fermentado, do primeiro dia ao sétimo dia, será eliminado de Israel.” Êx 12,15 Na pressa da saída, não tiveram tempo de fermentar o pão. E manda comer pão assim durante sete dias. Em 12, 27, há um rito que se cumpre ainda hoje na tradição dos hebreus: um menino pergunta ao pai, que conta toda a história. Fala da libertação, mas não como facto passado, e sim como se acontecesse com eles. Todas as vezes que celebravam uma libertação, eles referiam este facto. “vós direis: ‘É o sacrifício da Páscoa em honra do SENHOR, que passou ao largo das casas dos filhos de Israel no Egipto, quando feriu o Egipto e salvou as nossas casas.’» O povo inclinou-se e prostrou-se.” Êx 12,27

A passagem do Mar Vermelho é uma narração epopeica, enriquecida pela liturgia. O Cap.15 é o canto de Moisés, mas este canto não é exactamente dele. Fala de vitórias sobre os filisteus, os amalecitas, povos posteriores a ele. Foi feito por outro autor e atribuído a Moisés. A passagem 15, 20-21 é um texto muito antigo. Teria sido mesmo após a passagem do mar vermelho. “Maria, a profetisa, irmã de Aarão, tomou nas mãos uma pandeireta, e todas as mulheres saíram atrás dela com pandeiretas, a dançar. 21E Maria entoou para eles: «Cantai ao SENHOR, que é verdadeiramente grande: lançou no mar cavalo e cavaleiro.” Êx 15,20-21

Narração da Aliança “’Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim.” Êx 19,4 A arqueologia mostrou várias Alianças entre reis antigos, parecidos com esta do Sinai, redigidas no mesmo esquema. A de Israel tem a sua conotação própria, porque é com Deus. A insistência em trovões e relâmpagos talvez são fatos que provavelmente teriam acontecido o que é muito possível numa região vulcânica como essa.


8. A ALIANÇA

A narração da entrega dos mandamentos é um esforço para colocar dentro da Aliança o decálogo, uns preceitos imperativos e outros explicativos, uns mais antigos e outros mais recentes. Em parte vêm de Moisés, pois ele teria dado alguns princípios gerais para o governo do povo, e outros foram acrescentados, tirados de outros povos, preceitos conhecidos e adoptados pelos povos vizinhos.

O esquema comum das Alianças, que foi seguido pelos hebreus:

     1. Introdução histórica

     2. Proposta (mandamentos)

     3. Pacto (compromisso)

     4. Bênçãos e maldições

     5. Sacrifício: a tábua é colocada no santuário de um deus.

Este esquema era das alianças que ordinariamente se faziam naquela época. Como se vê, pouco ou nada há de diferente na esquematização da Aliança de Deus com Israel. Até a conservação das tábuas houve também.

A introdução (19,3-19) é de origem sacerdotal. Proposição da aliança – Moisés subiu até junto de Deus. Da montanha o SENHOR chamou-o, dizendo: «Assim dirás à casa de Jacob e declararás aos filhos de Israel: ‘Vós vistes o que Eu fiz ao Egipto, como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe até mim. E agora, se escutardes bem a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade particular entre todos os povos, porque é minha a terra inteira. *Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.’ Estas são as palavras que transmitirás aos filhos de Israel.»
Moisés veio e chamou os anciãos do povo e pôs diante deles todas estas palavras, como o SENHOR lhe tinha ordenado. Todo o povo, unânime, respondeu, dizendo: «Tudo o que o SENHOR disse, nós o faremos.» E Moisés transmitiu ao SENHOR as palavras do povo.
Preparação da aliança – O SENHOR disse a Moisés: «Eis que Eu venho ter contigo no coração da nuvem, para que o povo oiça quando Eu falar contigo e também acredite em ti para sempre.» E Moisés transmitiu ao SENHOR as palavras do povo. O SENHOR disse a Moisés: «Vai ter com o povo, e fá-los santificar hoje e amanhã; que eles lavem as suas roupas. Que estejam prontos para o terceiro dia, porque no terceiro dia o SENHOR descerá aos olhos de todo o povo sobre a montanha do Sinai. Põe limites ao redor do povo, dizendo: ‘Guardai-vos de subir à montanha e de tocar os seus limites. Todo aquele que tocar na montanha morrerá. Ninguém tocará nela, pois será apedrejado ou atravessado de flechas: seja animal ou seja homem, não viverá. Quando soar longamente o chifre de carneiro, eles subirão à montanha» Moisés desceu da montanha ao encontro do povo. Ele santificou o povo, e eles lavaram as suas roupas. E disse ao povo: «Estai prontos para o terceiro dia. Não vos aproximeis de mulher alguma.»
Teofania do Sinai (Dt 4,10-14; 5,1-5) – E eis que, no terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem pesada sobre a montanha, e um som muito forte de trombeta, e todo o povo que estava no acampamento tremia. Moisés fez sair o povo do acampamento ao encontro de Deus, e colocaram-se no sopé da montanha. A montanha do Sinai estava toda coberta de fumo, porque o SENHOR tinha descido sobre ela no fogo; e o seu fumo subia como o fumo de um forno, e toda a montanha tremia muito. O som da trombeta era cada vez mais forte. Moisés falava, e Deus respondia-lhe no trovão.” Êx 19, 3-19

Em 3-6 é o discurso de Deus como introdução à Aliança: “E continuou: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob.» Moisés escondeu o seu rosto, porque tinha medo de olhar para Deus.” Êx 3,6

7-15 é a preparação da vinda de Deus para onde está o povo; “Vai ter com o faraó, de manhã, quando ele sair para a água. Espera-o na margem do rio, e levarás na mão a vara que se transformou em cobra.” Êx 7,15

16-19 é uma teofania (aparição de Deus na tempestade) “Disse-lhes Moisés: «Ninguém o guarde até de manhã.» Êx 16,19

O versículo 20 é uma repetição disto tudo, “20Porém, alguns não escutaram Moisés, e guardaram-no até de manhã; mas ganhou vermes e cheirava mal. E Moisés irritou-se contra eles.” Êx 16,20 originária de outra tradição. A seguir, a narração é interrompida para que sejam intercalados os mandamentos.

O decálogo está em 20, 1-17. “Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: 2*«Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão. Não haverá para ti outros deuses na minha presença. Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas. Não te prostrarás diante dessas coisas e não as servirás, porque Eu, o SENHOR, teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo o pecado dos pais nos filhos até à terceira e à quarta geração, para aqueles que me odeiam, mas que trato com bondade até à milésima geração aqueles que amam e guardam os meus mandamentos. Não usarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não deixa impune aquele que usa o seu nome em vão. Recorda-te do dia de sábado, para o santificar. Trabalharás durante seis dias e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado consagrado ao SENHOR, teu Deus. Não farás trabalho algum, tu, o teu filho e a tua filha, o teu servo e a tua serva, os teus animais, o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, o mar e tudo o que está neles, mas descansou no sétimo dia. Por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e santificou-o. Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá. Não matarás. Não cometerás adultério. Não roubarás. Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa. Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.” Êx 20, 1-17 É um código de leis bastante antigo, muito inspirado em Hamurabi.

As tempestades a que se refere o capítulo 19 são teofanias e constam nas tradições Javista, Eloísta e Deuteronómica. Para os antigos, relâmpagos e trovões eram manifestações de Deus. Os exegetas não negam que possa ser a narração de um facto natural da época. No Seu discurso, Deus faz questão de dizer “toda a terra é minha”, para que o povo não pense numa religião nacionalista, mas universal. “Reino de Sacerdotes”, porque no mundo de Javé todos são mediadores; “nação santa”, ou seja, em hebraico ‘kadosh’ = separada. A “nuvem” é a presença de Deus, e o “som da trombeta” é um modo de descrever o ruído do trovão. O povo não vê Deus, vê apenas os sinais.

O versículo 22 é da lei de talião. “E que também os sacerdotes que se aproximam do SENHOR se santifiquem, para que o SENHOR não os fira.” Êx 19,22 É muito rigorosa, em relação ao Evangelho, mas é um grande progresso comparada às leis mais antigas.

O capítulo 24 é quase todo de origem eloista. Tem algo de sacerdotal. O versículo 3 é um compromisso do povo “Moisés veio e relatou ao povo todas as palavras do SENHOR e todas as normas, e todo o povo respondeu a uma só voz, e disse: «Poremos em prática todas as palavras que o SENHOR pronunciou.” Êx 24,3 ;


O versículo 5 é o holocausto, vítima pacífica. “E enviou os jovens dos filhos de Israel, e ofereceram holocaustos e sacrificaram ao SENHOR novilhos como sacrifícios de comunhão.” Êx 24,5 A seguir, a aspersão do povo com o sangue, para consumar a Aliança. Jesus Cristo na instituição da eucaristia faz alusão às palavras de Moisés. O versículo 11 é o mesmo sacrifício, descrito na tradição javista. “E Ele não estendeu a mão contra estes eleitos dos filhos de Israel, os quais contemplaram a Deus e depois comeram e beberam.” Êx 24,11

Os hebreus nem sempre entenderam bem o sentido da aliança. O seu significado foi dado pelos profetas, mais tarde, acentuando não tanto o contracto jurídico, mas o relacionamento pessoal de Deus, acompanhando-os no deserto.


9. OS MANDAMENTOS

Um problema que sempre perturbou os hebreus foi eles distinguirem o Deus verdadeiro da imagem de Deus. Se Moisés deixasse o povo fazer imagens, eles a adorariam como Deus. Foi preciso muito tempo para que eles chegassem a uma concepção abstracta da divindade. O “Deus que ninguém vê” era um problema sério, e por isso eles caíram muitas vezes na idolatria. Daí a séria proibição na Bíblia de se fazerem imagens.

O Decálogo católico é uma adaptação. Nele está modificado o 6º mandamento. Na Bíblia diz: “não cometer adultério”, e no catecismo diz: ‘não pecar contra a castidade’ ; também os 9º e 10º mandamentos na Bíblia são um só, e no catecismo está dividido. Esta distinção foi precisa para se completarem os dez, porque eles suprimiram o que proibia o fabrico de imagens, e isto sempre foi a causa de polémica com os protestantes.

Aqui está a discriminação dos mandamentos na Bíblia (capítulo 20):

1º Mandamento = vers 3 – (Não haverá para ti outros deuses na minha presença..)

2º Mandamento = vers 4 a 6 – (Não farás para ti imagem esculpida... não te prostrarás diante destes deuses e não os servirás...)

3º Mandamento = vers 7 – (Não usarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão…)

4º Mandamento = vers 8 a 11 – (Trabalharás durante seis dias... o sétimo dia é o sábado consagrado ao Senhor teu Deus)

5º Mandamento = vers 12 – (Honra teu pai e tua mãe)

6º Mandamento = vers 13 – (Não matarás)

7º Mandamento = vers 14 - (Não cometerás adultério)

8º Mandamento = vers 15 – (Não roubarás)

9º Mandamento = vers 16 – (Não responderás contra o teu próximo como testemunha mentirosa)

10º Mandamento = vers 17 – (Não desejarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, o seu servo, a sua serva, o seu boi, o seu burro, e tudo o que é do teu próximo.)


  • CONCLUSÃO:
O Povo de Israel só tomou conhecimento que de facto era um Povo, depois do Êxodo, porque aí pôde ver o que Deus fez por eles e então começaram a celebrar os acontecimentos. O Povo foi aprofundando o sentido dos acontecimentos com Moisés em tempo calmo e depois estável.

Sentiram a necessidade de corresponder a Deus. Deus está sempre ao lado dos mais fracos, e o Povo de Israel, através das necessidades que sentiram no deserto, começaram a pensar na salvação de Deus, mas este Povo foi muitas vezes infiel à Aliança, mas Deus repunha sempre a Aliança.

O  Livro  do  Êxodo  é  um  grito  à  escravatura.

O Povo de Deus, foi o único Povo a acreditar num só Deus, mas há algumas duvidas porque parece que também acreditavam em pequenos deuses, mas Deus era o maior, o YAVÈ.


SAÚL 1º REI

1. ORIGEM E ASCENSÃO

Saúl foi o primeiro rei de Israel, filho de Quis, e pertencente à tribo de Benjamim. Governou +/- 40 anos entre 1055 e 1015 A.C. ?

Nos anos 1200 – 1050 A.C, existia um Povo, mas ainda não tinham consciência disso, repartido em diversas tribos unidas por diversos laços étnicos e culturais, que alinhavam-se ou batalhavam entre si e que eram conduzidos por juízes. As tribos aperceberam-se que se estivessem mais unidas seriam mais Povo. Por este motivo os anciãos de Israel foram ter com Samuel e pediram-lhe um rei visível que governasse sobre eles, à semelhança das nações bem organizadas que lhes eram próxima. “Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações” 1 Sam 8,5

Abandonaram a fé no Deus invisível para depositarem confiança num rei visível. Por instruções divinas, Samuel informou aos anciãos, quais seriam os direitos do rei e as obrigações do povo para com ele. Como os anciãos insistiam no seu pedido, foram atendidos e saíram. “Fazem o que sempre têm feito, desde o dia em que os tirei do Egipto até ao presente, abandonando-me para servir deuses estrangeiros.” 1 Sam 8,8

Samuel, era contra um rei, mas aceita, mas para isso o Povo tem que assumir as consequências. “Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» 10Referiu Samuel todas as palavras do SENHOR ao povo que lhe pedia um rei.” 1 Sam 8,9-10

Havia  a  impressão  que  o  Rei  era  Deus, 
mas  ao  escolherem  o  1º Rei 
será  que  este  não  enfrentava 
o  verdadeiro  Rei  que  era  Deus ?



2. REINADO E MORTE

Quando Saúl foi ter com Samuel, este foi ungido e aclamado rei. Os reis eram ungidos. “Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O SENHOR ungiu-te príncipe sobre a sua herança.” 1 Sam 10,1

Saúl foi escolhido para atrair a confiança de todo o povo; e ainda mais, um homem da tribo de Benjamim, situada entre Efraim e Judá de modo a agradar tanto às gentes do norte como às do sul. Mas Saúl liderava apenas 4 ou 5 tribos de Israel, as do centro da Samaria.

Saúl era um guerreiro, formou o seu exercito e não alterou quase nenhum dos padrões tribais que imperavam sobre Israel desde a época dos juízes. A sua imaturidade levaram o seu reinado ao fracasso e à desobediência a Deus, voltou as costas a Deus.

Samuel repreendeu Saúl por ter transgredido a ordem divina e declarou-lhe que por causa da sua desobediência a Deus, o seu reino não subsistiria para o futuro. “Agora, o teu reinado não subsistirá. O SENHOR escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.” 1 Sam 14,13

Como Saúl não executava as ordens divinas, antes se opunha a elas, o próprio Deus rejeitou-o para não ser mais rei de Israel. “Samuel disse-lhe: «Deste modo, o SENHOR arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro melhor do que tu.” 1 Sam 15,28

Durante a guerra contra os filisteus, Saúl acaba por perder três dos seus quatro filhos, “Os filisteus atiraram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul.” 1 San 31,2 e ele estando ferido acaba por suicidar-se atirando-se sobre a sua própria espada.

Saúl reinou até à morte. “O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte.” 1 Sam 15,35


REI DAVID

1. HISTÓRIA

David viveu e reinou por volta dos anos +/- 1015 e 977 A.C. ?

Foi um rei muito popular e amado. Na narrativa bíblica, ele aparece-nos como tocador de harpa na corte do rei Saúl, e tocava quando este se sentia possuído por maus espíritos para o aliviar. “Um espírito maligno, por permissão do SENHOR, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava harpa.” 1 Sam 19,9 Ganhou grande notoriedade quando matou o gigante guerreiro filisteu Golias e assim ganhou o direito de casar com a filha do rei Saúl, assim como outras mordomias. Depois da morte de Saúl governou a tribo de Judá e mais tarde foi escolhido como rei de todo Israel, “Todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu sangue? 2Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as campanhas de Israel e o SENHOR disse-te: 'Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.'» 3*Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do SENHOR, e eles sagraram-no rei de Israel.” 2 Sam 5,1-3 marcando uma diferença na realidade dos judeus: de uma confederação de tribos, transformou-se numa nação e, transferiu a capital de Hebron para Jerusalém trazendo consigo a Arca Sagrada.

Alargou os territórios sobre qual governava e trouxe grande prosperidade para Israel. Os seus últimos anos de vida foram abalados por rebeliões e desentendimentos entre os seus filhos e alguns familiares na corte. David é o grande autor do livro dos Salmos, mas apenas parcialmente.

David foi ungido rei pelo Profeta Samuel ainda durante o reinado de Saúl, causando assim alguns ciúmes.


2. RELATO BÍBLICO SOBRE DAVID

Deus ordenou a Samuel que Saúl destruísse o povo amalequita por terem atacado o povo de Israel durante o êxodo. Saúl desobedeceu, e por isso Samuel profetizou que Saúl não seria mais rei. “Agora, o teu reinado não subsistirá.” 1 Sam 13,14

Samuel instruído por Deus foi secretamente a casa de Jessé ungir o seu filho mais novo como novo rei. “Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.” 1 Sam 16, 1 Como David tocava para Saúl este afeiçoou-se a David e fez dele seu escudeiro.

David  mata  Golias,  mata  mais  do  que  Saúl.

Mais tarde quando o exercito dos filisteus enfrentou os Israelitas, Golias desafiou a que lhe enviassem um homem para enfrentá-lo, e David corajoso decidiu enfrentá-lo e, logo no inicio do combate atirou-lhe uma pedra à testa e Golias caiu ao chão e arrancou-lhe a cabeça com a sua própria espada. “Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na cabeça, e o gigante tombou com o rosto por terra. Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, David correu para o filisteu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça.” 1 Sam 17,49-51

Após este combate, foi colocado como líder de um grupo de soldados e tornou-se no melhor amigo de Jonatas, filho de Saúl.

David ganhando em todas as frentes e missões, a sua fama foi aumentando entre o povo e o rei Saúl começou a sentir inveja e a temer de perder o poder para David. “Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos.” 1 Sam 18, 8-9 A partir daí, Saúl tentou matar várias vezes David, o qual fugiu para o deserto para se salvar. Começou a reunir em seu torno um pequeno exercito que o defendia contra os ataques do rei Saúl.


3. CONCLUSÃO

Pode-se dizer que David foi um homem em três dimensões:

1ª dimensão: David o guerreiro. Esta foi a primeira experiência que David teve fora da sua actividade de pastor, pois ele estava a ser preparado por Deus para assumir uma posição maior dentro da nação de Israel. David ao eliminar Golias, mostrava a sua fé, o seu compromisso e preparação para enfrentar os inimigos de Israel e de Deus.

2ª dimensão: David na sua realidade. David, um jovem de uma família desconhecida de Israel é apontado por Deus para tornar-se futuro rei de Israel. Aparentemente não havia nenhuma possibilidade de se cumprir a profecia de Samuel, mas Deus, encaminha a história para que a profecia dada pela boca do homem de Deus torne-se história. Deus cumpre a sua palavra e o menino guerreiro torna-se rei. É claro que este rei tem algo especial: é um rei escolhido por Deus. Por isso Deus usa David, o rei-guerreiro para cumprir os seus propósitos e também para expulsar e vencer todos os inimigos de Israel.

3ª dimensão: David o músico. David é um homem que conseguiu expressar através da música todo o seu amor por Deus. Foi o maior compositor que Israel já conheceu derivado ao grande número de Salmos escritos. Através dos cânticos de David podemos louvar a Deus. Através dos Salmos, David expressou o seu grande amor a Deus, a sua fé, os ataques sofridos pelos inimigos de Israel, a esperança, a angústia, o pecado, e muitos outros aspectos da vida nas suas nuances com Deus.


Para terminar,

Deus tem uma relação de Paternidade com David e a sua descendência. Deus assume o compromisso de manter a sua descendência como Reis, mesmo que o neguem.

David, ainda antes de morrer, o seu segundo filho Salomão foi ungido como rei. “Saíram, pois, o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus; montaram Salomão na mula do rei David e conduziram-no a Guion. 39*O sacerdote Sadoc tomou do santuário o chifre do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta; todo o povo exclamou: «Viva o rei Salomão!” 1 Rs 1,38-39

Hélder Gonçalves