sexta-feira, 25 de junho de 2010

TRINDADE - Acções "ad extra"



Quando falamos de operações divinas não designamos os actos internos de Deus nele mesmo, que dão origem à geração do Verbo e à processão do Espírito Santo. Designamos por operações os actos externos de Deus que têm por objecto as criaturas.

Os actos internos fundamentam a distinção de Pessoas.

As operações externas (ad extra) são obra indivisível das três Pessoas.

As três Pessoas divinas têm a mesma natureza; logo elas têm a mesma inteligência e vontade única. Como consequência, toda operação exterior é comum entre elas, como vindo de um princípio comum. Nosso Senhor diz em São João: "O Pai, que está em mim, este é que faz as minhas obras" (Jo.14,10).

De facto, quando Jesus Cristo age como Deus, Ele age pela Sua natureza divina, pela Sua inteligência divina, pela Sua vontade divina, tudo o que lhe é comum com o Pai e o Espírito Santo. Segue daí que essas duas Pessoas agem unidas com ele. Aliás, em Deus, natureza, inteligência, vontade, são uma única e mesma coisa, princípio de tudo o que existe.

No princípio Deus criou o céu e a terra. Esta criação é obra inseparável de toda a Santíssima Trindade. Na plenitude do tempo, Deus realizou a obra da Redenção do mundo pela Encarnação e morte de seu Filho único. Ora, tudo o que fez Nosso Senhor, como Deus, nessa grande obra, foi realizado por toda a Santíssima Trindade. E Deus também não cessa de santificar as almas; esta obra de santificação é tão grande que toda a Santíssima Trindade a realiza, como diz Nosso Senhor: "Se alguém me ama...nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada" (Jo.14,23).

Mas, como atribuímos a cada Pessoa uma qualidade determinada: poder, sabedoria, bondade, mesmo sabendo que estes atributos são comuns a todas as três, assim atribui-se a cada uma certas operações exteriores, mesmo sendo sempre obra de toda a Santíssima Trindade.

Quando o Credo diz: Creio em Deus Pai Todo poderoso, criador do céu e da terra, relaciona especialmente com o Pai a obra da criação. O que mais se manifesta na criação é o poder que tira algo do nada. Mas as outras pessoas não estão excluídas dessa obra. Assim como um trabalhador não executa uma obra sem conceber primeiro uma planta e sem ter a intenção de fazer a coisa direita, também o Pai, para criar o mundo, usou a sabedoria do Filho e a bondade do Espírito Santo (Sto Agostinho).

A Redenção é especialmente obra do Filho. O que brilha nela não é tanto o poder mas a sabedoria, esta sabedoria que soube conciliar tão admiravelmente a justiça e a misericórdia, buscando a imolação do inocente para a salvação do culpado, e mais, acalmando a Deus pelo sacrifício de Deus (Sto Agostinho, São Leão).

Assim o Filho chama a si esta obra e se Encarnou para realizá-la. O Pai trabalhou nela como autor da Encarnação; o Espírito Santo como autor dessa união maravilhosa de duas naturezas infinitamente distantes.

Enfim, a obra da santificação das almas é, atribuída ao Espírito Santo. É um Espírito de amor, e é o Amor, que santifica as almas. No céu, nesse céu dos céus que é a habitação da Santíssima Trindade, o Espírito Santo une o Pai e o Filho num laço indissolúvel; na terra, ou melhor, nesse céu que é a Igreja, ele une as almas em Jesus Cristo, para que Jesus Cristo as reúna a Deus. Foi para essa obra que Ele foi enviado sobre a Igreja nascente no dia de Pentecostes.

Esta doutrina mostra-nos que é justo e legítimo atribuir certas operações a certas Pessoas. Quando a Sagrada Escritura nos diz que tal Pessoa fez tal obra, não é uma simples maneira de falar. É verdade que esta Pessoa teve uma acção especial e que as outras Pessoas só participaram da obra por concomitância, ou seja, em virtude do laço que as torna inseparáveis.

A Sagrada Eucaristia apresenta-nos um fenómeno análogo: é bem verdade que o Corpo de Jesus está sob a espécie do pão de um modo muito especial; o Sangue de Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada por concomitância, ou seja, por ser inseparável do corpo no estado actual de Ressurreição de Nosso Salvador.

Hélder M. Gonçalves

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