domingo, 20 de junho de 2010

A IGREJA COMO MÃE E EDUCADORA



• A Igreja como mãe e educadora, guia e pioneira


Neste esforço de humanização da nossa sociedade pela evangelização da vida familiar, a tarefa da Igreja é sobremodo grande enquanto mãe e educadora, guia e pioneira. Com efeito, como dizia Santo Agostinho na sua época; “Não terá Deus como Pai, quem recusa ter a Igreja como Mãe” ( Santo Agostinho, De symbolo ad Catech. XIII ). Desde as suas origens a Igreja foi querida pelo seu fundador como mãe e educadora; “a seus filhos, ela considera como mãe, deve assegurar educação que inspiração da sua vida do espírito de Cristo; ao mesmo tempo ela oferece-se para trabalhar com os homens para promover a pessoa humana na sua perfeição, como também para assegurar o bem da sociedade terrestre e a construção de um mundo cada vez mais humano” ( Vaticano II, G:E:M., nº 3 ). Dever-se-á considerar o exercício do seu direito não como uma ingerência ilegítima, mas como colaboração preciosa da sua solicitude maternal, que coloca os seus filhos ao abrigo dos perigos graves de um envenenamento doutrinal e moral. (Pio XI, Encíclica sobre a educação da juventude, 1929, Ed. Bonne Presse, Paris, 1930, p. 1 )

Nesta perspectiva, a missão evangelizadora sobre a ideia da força da Igreja Família. Esta expressão, tão rica de sentido recorda a natureza da Igreja como lugar de perdão e de festa, isto é, lugar de atenção ao outro, de acolhimento, do dialogo, de confiança mutua.

Devemos, entretanto, reconhecer que temos ainda muito a fazer no âmbito da pastoral familiar, e matrimonial. Mais que um simples trabalho de moralização, é toda uma evangelização das nossas famílias à qual queremos nos associar até ao terceiro milénio, pois existem ainda muitos elementos sobre os quais merecem ser clarificados à luz do evangelho.

Este é o caso por exemplo do dote, este presente simbólico entre duas famílias, que na sua situação sócio - económica difícil que atravessa uma grande parte das famílias cristãs, tende a se tornar verdadeiramente moeda de troca indo de encontro assim, à dignidade da mulher e anuviando o carácter gratuito do amor entre o homem e a mulher. Há outro sim urgência em salvaguardar a unidade e a indissolubilidade do matrimónio nos diversos continentes, lutando contra a poligamia sob todas as suas formas declaradas ou disfarçadas e o divorcio, estes dois flagelos que destróem a família e o matrimonio.

Além destes problemas que engajam a nossa Igreja em todo um trabalho de evangelização e de actualização da catequese sobre o matrimonio, sublinha-se outros males que inquietam as famílias a nível mundial, notadamente o drama da sida. Com efeito, como atestam as estatísticas, todos os continentes estão atingidos pela pandemia da sida, cuja primeira vitima é evidentemente a família. Quando uma parte do casal é atingida pela doença, é todo um drama, pois a outra é frequentemente também infectada e toda a família fica ameaçada. Hoje o mundo conta com muitas crianças órfãs por causa da sida. A Igreja, segundo a sua realidade e possibilidade, tem que lutar contra este flagelo, mas o caminho é longo, dada a complexidade do fenómeno. O trabalho tanto se faz por meios médicos, como a nível de informação e sensibilização através dos diversos serviços pastorais que as paróquias têm.

Ao lado da sida, temos o escândalo das diversas guerras, que por mais justas que pareçam ser, são injustas, nada se justifica uma guerra, mas traz consequências de milhares de pessoas deslocadas do seu próprio meio.

Mas quem são estas pessoas senão famílias divididas, os casais desunidos, as crianças separadas dos pais e as famílias que vagueiam pelas florestas sem rumo, etc...

Face a este drama, diante do qual nos achamos muitas vezes impotentes, as nossas acções consistem em invocar a assistência Divina, apelando a sociedade à solidariedade, à responsabilidade dos nossos dirigentes políticos e por vezes à ajuda internacional.

Enfim, hoje em dia em 2005 ainda há miséria e pobreza de todas as formas. Muitos pais não dispõem de meios para assumir a educação dos seus filhos. Assim ficamos convencidos que problemas como delinquência juvenil, abortos clandestinos entre as jovens, o planeamento familiar nas famílias numerosas, etc... estão relacionados com questões sociais de salário, alfabetização, casa, segurança social, emprego etc... por isso, a questão da promoção humana tem de ser uma das maiores preocupações da Igreja, onde como mãe e educadora dá o melhor de si para tratar os doentes, instruir os homens e mulheres, reeducar os jovens desfavorecidos, acompanhar as pessoas idosas...

A sociedade, em qualquer parte do mundo, sem sequer ter consciência disto, espera muito da Igreja, esta mãe cuja vocação é de “alimentar e cercar de cuidados os seus filhos” ( Ef 5, 29 ). ( Vat. II , LG ). Deste modo a Igreja é chamada a reflectir sobre a missão da Igreja no mundo de amanhã. Mas amanhã, com o ritmo para onde vai a mudança das mentalidades ela exigirá ainda muito mais. Para muitos era bom que ela mudasse como e com o mundo. Para muitos era bom que a Igreja fosse “democrática”, o que significa consultar o povo de Deus nos mais diversos temas, não somente às questões disciplinares, como o celibato dos sacerdotes, ao acesso das mulheres ao sacerdócio, mas também e sobretudo quanto ás questões morais como as referentes à procriação, ao aborto, à contracepção, ao divorcio, à eutanásia, à pena de morte... muitos concordarão com a Igreja quando anunciar o amor, mas são poucos numerosos os que aceitarão o conteúdo que dará a esta palavra, e menos numerosos ainda aqueles que escutarão quando vier a denunciar o pecado.

Face a estas situações, a Igreja de amanhã é chamada a responder aos apelos dos homens e das mulheres do nosso tempo evitando de sucumbir a uma dupla tentação: a de uma abertura ao mundo que afiançasse, em ultima análise, um liberalismo ou um indiferentismo e a de um enrijecimento do seu ensinamento que a rompesse das realidades do mundo. A melhor solução, consiste em uma busca acompanhadora que saiba unir rigor e indulgência para permanecer fiel à as vocação de mãe e educadora e realizar o duplo elemento essencial da sua missão que é a glória de Deus e a salvação dos homens. Trata-se antes de tudo de um acompanhamento espiritual, evangélico e pastoral que se quer paciente, escuta e amplo dialogo, exortação e testemunho, presença discreta, mas efectiva e afectiva junto dos homens e mulheres da nossa sociedade, para aconselhar, ajudar, esclarecer, para encorajar os fieis, apoiar os fracos, recuperar os pecadores...

Assim a Igreja de amanhã é chamada a considerar a sua missão como a do servo sofredor do qual fala a Sagrada Escritura;


“Eis meu ser a quem apoio,

meu eleito, ao qual quero bem!

Pus nele meu espirito;

Ele levará o direito aos povos.

Não gritará, não levantará a voz

e não fará ouvir sua voz pelas ruas.

Não quebrará a cana já rachada

nem apagará a mecha que está morrendo;

com fidelidade levará o direito.

Ele não esmorecerá nem se deixará abater,

até estabelecer na terra o direito;

e as ilhas aguardam a sua doutrina.”

( Is 42, 1 – 4 )


Hélder M. Gonçalves

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