domingo, 20 de junho de 2010

FAMILIA DOM DE DEUS



• Família como dom de Deus à humanidade


A família possui a sua origem no amor criador de Deus. Ao criar o homem e a mulher, Deus consagrou o amor humano no qual o matrimónio e, por via de consequência a família, são os lugares por excelência de expressão. A revelação divina indica-nos assim o sentido e o alcance geral do matrimónio e da família segundo o desígnio de Deus sublinhando a ligação do homem e da mulher. Então este exclamou: “desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Esta será chamada mulher porque foi tirada do homem. Eis porque o homem deixa o seu pai e a sua mãe e se une à sua mulher e eles se tornam uma só carne” (Gn 2, 23-24).

Por esta palavra da escritura, a família manifesta-se como um duplo dom de Deus à humanidade: ela é ao mesmo tempo um Dom de amor e um Dom de vida. Trata-se exactamente de um duplo dom, e não de dois dons distintos, porque a vida que recebemos de Deus procede do Seu amor: Deus criou-nos porque nos ama.

A família é um dom de Deus à humanidade, pois foi por amor que nos criou e foi por amor que nos salvou pelo sangue do seu Filho único, Jesus Cristo, em quem todos os seres que crêem no amor criador do Pai se tornam uma mesma família. No coração do duplo mistério da Criação – Redenção há o mistério do amor do Pai para com o mundo concretizado pelo sacrifício do Filho: “Jesus, sabendo que a hora de passar deste mundo para o Pai havia chegado, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. (Jo 13,1)

Dom do amor de Deus à humanidade a família torna-se assim, pelo sacrifício de Cristo, o lugar do dom do amor mútuo, dom recíproco entre homem e a mulher, especialmente no casamento. Igualmente o sacrifício e a aliança de Cristo com a Igreja sempre serviram de símbolo e de modelo para a família cristã em continuidade com o apóstolo que conclama os esposos ao amor verdadeiro: “maridos, amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja: Ele entregou-se por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesma a Igreja, gloriosa, sem manchas nem rugas, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim também os maridos devem amar as suas próprias mulheres, como os seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal á sua própria carne, antes alimenta-a e cuida dela, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu corpo. Por isso deixará o homem o seu pai e a sua mãe e se ligará á sua mulher, e serão ambos uma só carne. É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a sua Igreja. Em resumo cada um de nós ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o seu marido” (Ef 5, 25–33).

Mais adiante, o apóstolo associa os filhos a esta trama sem fim de tornar perfeito o amor e coerentes as relações na família: “Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor: isto é justo. Honra teu pai e tua mãe, tal é o primeiro mandamento ao qual se une uma promessa: para seres feliz e teres uma longa vida sobre a terra. E vós pais, não exaspereis os vossos filhos, mas usai, educando-os, das correcções e disciplinas que se inspiram do Senhor” (Ef 6, 1– 49).

Tal é o fundamento escriturístico da moral familiar que tem o amor como núcleo vital. O amor que preside a toda a relação entre esposo e esposa de sorte que não há mais senhor e escravo (Cf. Santo Ambrósio, Exameron, v,7,19.), superior e inferior, mas igualdade de direitos e de dignidade, no respeito às diferenças inerentes à natureza própria do homem e da mulher. O amor que regula as relações entre pais e filhos de tal modo que os primeiros encontrem o seu regozijo na presença dos seus filhos, e que estes cresçam na alegria graças à afeição e ao apoio dos seus pais.

Dom do amor de Deus à humanidade, a família quer a si mesma como um dom da vida de Deus à eternidade. Foi porque Deus nos amou que nos criou; foi porque Deus nos amou que Ele nos deu a vida. Por isso criou o ser humano, homem e mulher para se amarem e fundarem uma família, a fim de promover a vida. Desde a sua origem, desde o seu começo, o homem vive pelo sopro de Deus, da vida de Deus. É nesta perspectiva que o Seu Filho escreveu toda a sua missão redentora: “Eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Dom da vida à humanidade, a família é chamada a se tornar assim o santuário da vida ( João Paulo II , EV , no. 6.) , o lugar, o lar da vida, o lugar onde a vida, toda a vida humana é acolhida, promovida, respeitada, protegida etc. (Id , no. 5 ). O direito mais fundamental do homem, diz o Papa João Paulo II, é o direito á vida. ( João Paulo Ii, “Entrez dans L’esperance”, Ed. Plon-Mane, Paris, 1994, p.297).

É á família que pertence em primeiro lugar o dever de salvaguardar este direito, particularmente para os seres frágeis, os seres humanos inocentes e sem defesa, aí compreendidos aqueles que acabam de ser concebidos, de nascer ou igualmente aqueles que estão avançados na idade e perderam toda a autonomia. A família deve permanecer o lugar da gratuidade, do acolhimento e do dom: onde todo o homem, qualquer que seja, tenha a chance de ser reconhecido, respeitado e honrado por ser uma pessoa. Ela é o primeiro lugar onde a vida, dom de Deus, deve ser convenientemente acolhida e protegida contra os numerosos ataques aos quais está exposta, o lugar onde ela deve se desenvolver consoante as exigências de um crescimento humano autêntico. A família é o lugar do anuncio, da celebração e do serviço à vida. (Id. ,EV, no. 92 e 94).

Hélder M. Gonçalves

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