quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CIDADANIA, IDENTIDADE e DIFERENÇAS



A relação entre o meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada vez mais desafiador, exigindo a emergência de atitudes aos complexos riscos ambientais que se intensificam.

As políticas ambientais relacionadas à consciencialização sobre a crise ambiental exigem cada vez mais novas chamadas de atenção de uma realidade contraditória e geradora de desigualdades que transcendem a mera aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis.

O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis – formal e não-formal, ou seja, governamental e não governamental.

Assim, a educação ambiental deve ser acima de tudo um acto político voltado para a transformação social.

A sua atenção deve procurar uma perspectiva em que relacione o homem, a natureza e o universo, tomando como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem.

Quando referimo-nos à educação ambiental e a situamos num contexto mais amplo, o da educação para a cidadania, configura-se como elemento determinante para consolidar o conceito de sujeito cidadão.

O desafio de fortalecer a cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se a partir da possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e converter-se, portanto, em actor co-responsável pela defesa da qualidade de vida.

O eixo principal de actuação na educação ambiental deve procurar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença, através de formas democráticas de actuação baseadas em práticas interactivas e dialogadas.

Isso consubstancia-se no objectivo de criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo da nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e colectivos.

Mas como relacionar a educação ambiental com a cidadania?

Cidadania tem a ver com pertencer a uma colectividade e criar uma identidade com ela.

A educação ambiental, como formação e exercício de cidadania, tem a ver com uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens.

A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária.

O que é que tem sido feito em termos de educação ambiental?

A grande maioria das actividades é feita dentro de uma modalidade formal, governamental, do poder político.

Os temas predominantes são sempre: o lixo, os ecopontos, a proteção da área vegetal, acções para consciencializar a população em relação à poluição do ar.

A educação ambiental que tem sido desenvolvida no país é muito diversificada e é ainda muito restrita à presença dos órgãos governamentais, como articuladores, coordenadores e promotores de acções ambientais.

O grande salto de qualidade tem sido dado pelas ONG, (organização não governamental) centradas principalmente em acções com a população infantil e juvenil a nível mundial.

A lista de acções é interminável, e essas referências são indicativas de práticas inovadoras centradas na preocupação de incrementar a co-responsabilidade das pessoas em todas as faixas etárias e grupos sociais quanto à importância de formar cidadãos cada vez mais comprometidos com a defesa da vida.

A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para que transformem as diversas formas de participação em potenciais caminhos de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade, baseada na educação para a participação.

O desafio da construção de uma cidadania activa configura-se como elemento determinante para constituir e fortalecer sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assumam a importante missão de abrir novos espaços de participação.

A administração dos riscos sócio-ambientais coloca cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento público através de iniciativas que possibilitem um aumento do nível de consciência ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista.

A educação ambiental deve reforçar de forma crescente a “agenda marrom” A  Agenda Marrom foi a primeira nos finais dos anos 70 inícios dos anos 80, depois veio a Agenda 21 nos inícios dos anos 90 e finais dos anos 90 o Protocolo de Quioto, que já foi revisto e é o que perdura até hoje - enfatizando os problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da qualidade de vida nas cidades e não só.

"prevenção e controle da degradação ambiental decorrente de actividades poluidoras, e pelo desempenho de actividades correspondentes, como a realização de estudos e pesquisas sobre poluição, qualidade do ar, da água e do solo" “Agenda Marrom”

Uma vez que se observa que é cada vez mais difícil manter a qualidade de vida nas cidades e noutros lugares, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e colectivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável.

A educação ambiental, como componente de uma cidadania abrangente, está relacionada com uma nova forma da relação homem - natureza.

Nesse sentido, a dimensão quotidiana da educação ambiental leva a pensá-la como somatório de práticas e, consequentemente, a entendê-la na dimensão da sua potencial generalização para o conjunto da sociedade.

Entende-se que essa generalização de práticas ambientais só será possível se estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos quotidianos.

A problemática sócio-ambiental, ao questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a participação democrática da sociedade na gestão dos seus recursos actuais e potenciais, assim como no processo de tomada de decisões para a escolha de novos estilos de vida e a construção de futuros possíveis, da óptica da sustentabilidade ecológica e da equidade social.

Torna-se cada vez mais necessário consolidar novos paradigmas educacionais para iluminar a realidade, e isso supõe a formulação de novos objectos de referência conceituais e, principalmente, a transformação de atitudes.

Um dos grandes desafios é ampliar a dinâmica interactiva entre a população e o poder público, uma vez que isso pode potencializar uma crescente e necessária articulação com os governos, no que se refere ao desenvolvimento de práticas preventivas no plano ambiental.




A obra de Deus é uma “casa” maravilhosa, cheia de beleza e providência, prodígio divino, que devemos contemplar e louvar.

“E Deus viu que tudo que tinha feito era muito bom” (Gen 1,10)

Face à gravidade de toda a realidade ecológica, na sua crescente devastação, nasce uma indignação ética, que tem a sua origem na luta contra a poluição do ar e da água.

Urge pensar na criação, com uma nova mentalidade espiritual, que se assegure e tenha o seu fundamento no Evangelho e na pessoa de Jesus Cristo.

Ao mesmo tempo em que estamos abertos ao diálogo, indo ao encontro do Sagrado, em todas as suas expressões ou confissões que revelam e manifestam o sentido da transcendência, na religiosidade de todas as raças e de todos os povos da terra.

Temos consciência que nos dias de hoje, o nosso modo de evangelizar deve ser o do consenso, de que todas as raças, culturas e religiões devem ser respeitadas e valorizadas.

Eis que somos chamados a responder a esses grandes desafios através da nossa fé no Deus único e verdadeiro.

O mundo deveria ser uma casa pródiga, e oferecer à criatura humana, e aos demais seres vivos da terra, todas as condições: crescimento, sobrevivência e plena realização.

Um mundo harmonioso, em que todos vivessem de acordo com a vontade do seu Criador e Pai.

Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2008, Bento XVI - "a família precisa duma casa, dum ambiente à sua medida onde tecer as próprias relações. No caso da família humana, esta casa é a terra, o ambiente que Deus criador nos deu para que o habitássemos com criatividade e responsabilidade".

Para nós que temos fé, a Sagrada Escritura, leva-nos a louvar a grandeza e a bondade de Deus, Senhor de um mundo tão rico, vasto e belo.

Os livros dos Provérbios e da Sabedoria exaltam a grandeza do próprio Deus, presente e oculto nas maravilhas da natureza ( Pro 8, 22-31; Sab 13, 1-3).

22O Senhor criou-me, como pri¬mí¬cias das suas obras, desde o princípio, antes que crias¬se coisa alguma. 23Desde a eternidade fui for¬mada, desde as origens, antes dos pri¬mórdios da terra. 24Ainda não havia os abismos e eu já tinha sido concebida; ainda as fontes das águas não ti¬nham brotado; 25antes que as montanhas fossem implantadas, antes de haver outeiros, eu já ti¬nha nascido. 26Ainda Ele não tinha criado a terra nem os campos, nem os primeiros elementos do mundo. 27Quando Ele formava os céus, ali estava eu; quando colocava a abóbada por cima do abismo, 28quando condensava as nuvens, nas alturas, quando continha as fontes do abis¬mo, 29quando fixava ao mar os seus li¬mites, para que as águas não ultra¬pas¬sassem a sua orla; quando assentou os fundamentos da terra, 30eu estava com Ele como arqui¬tecto, e era o seu encanto, todos os dias, brincando continuamente em sua presença; 31brincava sobre a superfície da Terra, e as minhas delícias é estar junto dos seres humanos. (Pro 8, 22-31)

1Sim, insensatos são todos aque¬les homens em que se instalou a ignorância de Deus e que, a partir dos bens visíveis, não foram capazes de descobrir aquele que é, nem, considerando as obras, reco¬nheceram o Artífice. 2Antes foi o fogo, o vento ou o ar subtil, a abóbada estrelada, ou a água impetuosa, ou os luzeiros do céu que toma¬ram por deuses, governadores do mundo. 3Se, fascinados pela sua beleza, os tomaram por deuses, aprendam quão mais belo que tudo é o Senhor, pois foi o próprio autor da beleza que os criou. (Sab 13, 1-3)

Mas a exploração desenfreada e gananciosa que o homem realiza, nas suas acções, no que diz respeito aos madeireiros, aos exploradores de minas, de grandes terrenos agricolas e grandes empresas internacionais, é de facto para destruir todo esse património, que é de toda humanidade, que é desafiada a proteger e a conservar.

Hoje, mais do que nunca, temos que reconhecer a forte presença de Deus, na vida existente no planeta, vida muitas vezes não valorizada e mal cuidada, extremamente comprometida.

Deus quer abrir a nossa mente e o nosso coração diante dos gritos, dores e gemidos da terra, grande casa e mãe, onde se encontram: “rios e mares, antes gigantescos úteros de vida, que vêm a ser esterilizados pela poluição industrial, pelos esgotos, pelo lixo produzido pelo ser humano.

Como diz em Romanos “Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente” (Rom 8,22)

Esquece-se que a água, fonte de vida, transforma-se facilmente numa das piores fontes de morte, ao transmitir doenças.

Por ela navegam germes de morte até os confins da terra”.

Não é somente uma moda do momento ou uma moda teológica e espiritual, o tema da ecologia e da vida que se sustenta no planeta.

É um tema presente, que manifesta-se e encarna-se no dia a dia das pessoas não deixando dúvida, que é uma preocupação crucial para o nosso destino, o destino da humanidade.

De tal modo que é preciso enfrentá-lo com segurança e convicção, com paixão e fé, desenvolvendo a espiritualidade da confiança e coragem, ao mesmo tempo em que não se afaste de um São Francisco de Assis, homem cheio de ternura, compassivo e humilde, entrando, como o seu exemplo, em comunhão e diálogo com as realidades existentes na criação, começando com a própria natureza.

Temos gosto em possuir no mundo, a maior floresta tropical e a maior biodiversidade do mundo.

A Amazónia, muito ameaçada, mas ainda é o grande pulmao da humanidade.

Mas, toda essa riqueza está ameaçada pela destruição da floresta e de outros ecossistemas, por grandes projectos, pela expansão de grandes campos agricolas.

Somos convidados por Deus e nosso Pai a participar desse processo, bebendo da mesma água que bebeu a mulher samaritana.

A água que nos é oferecida é o Verbo Encarnado, agindo dentro de nós, a dizer-nos que somos sujeitos da nossa própria história.

Somos chamados a evitar os efeitos devastadores que nos envolvem, participando nas mudanças climáticas, que é o ponto chave para o futuro da humanidade.

“Quem beber da água que lhe darei nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água, jorrando para a vida eterna (Jo 4, 14-15)

Acreditamos, que pela força do nosso compromisso, como cristãos podemos olhar para um mundo que se transforma num actor de grande importância na construção de um novo acordo planetário, para conter os nocivos efeitos desse fenómeno, no contexto internacional.

09.06.2011 - Bento XVI a seis novos Embaixadores - “Há que promover uma séria reflexão e propor soluções concretas e viáveis. O conjunto dos governos devem empenhar-se em proteger a natureza, ajudando-a a desempenhar o seu papel essencial, para a sobrevivência da humanidade”.

Será que o mundo, não consegue fazer ver ao Brasil para parar a destruição da Amazónia?...

Vivemos numa terra, com tudo que ela contém, ainda marcada pelo sofrimento, gemendo com as dores do parto (Rom 8, 22), pela destruição e saque, fruto do capricho, da acção fútil e inconsequente do homem.

Somos convidados não só a pensar e a reflectir sobre essa triste realidade, mas decididamente em nome de Deus, a descruzar os braços e a fazer a nossa parte.

É Deus mesmo que quer ver-nos totalmente convertidos e sensibilizados para essa realidade ecológica, conscientes da nossa identidade e responsabilidade ética para com o planeta, profundamente contaminado e enfermo, com doenças de toda natureza.




Nós somos o resultado de duas heranças. A herança biológica e a herança social.

A herança biológica — produto do Homo sapiens, que tem uma origem de milénios de evolução natural, e que coloca-nos na natureza como um dos constituintes da cadeia alimentar.

Nessa condição estamos submetidos a leis naturais - que não dominamos -, e que regem a evolução dos seres vivos em geral.

E a herança social - produto humano -, que adquirimos enquanto crescemos, que tem a sua origem no tipo de organização e cultura em que vivemos, da forma como nos adaptamos ao meio ambiente.

É resultado de um processo de auto-criação em que, ao mesmo tempo que interagimos com a natureza, criamos a nossa própria existência social, submetidos a forças económicas, sociais e políticas, que não mudam a nossa natureza biológica, mas determinam a forma como suprimos as nossas necessidades biológicas, como desenvolvemos potencialidades e ampliamos o ambiente humano.

A herança social é um produto histórico e como tal vai mudando no decurso do tempo e de um lugar para outro.

É essa combinação do que herdamos da natureza com o que herdamos da sociedade em que vivemos que torna-nos diferentes dos outros seres da criação e dá-nos a capacidade de discernir entre o que é melhor e o que não é, possibilitando actuar sobre a realidade no sentido de transformá-la produzindo assim a evolução social.

Infelizmente, temos usado este poder para piorar o mundo, destruir o meio ambiente dominar e explorar os outros seres da Criação e os nossos próprios semelhantes.

Precisamos agora de fazer o contrário.

Devido às diferenças de lugar, determinadas tanto pela evolução natural quanto pela social, associadas à criatividade humana e à sua capacidade de adaptação, cada povo desenvolveu formas, maneiras, culturas, ideais que variam em função da história de cada um.
 Carta Encíclica “Caritas in veritate” “Caridade na Verdade” em 29.06.2009 - "Não podem ignorar os vindouros, mas devem ser animados pela solidariedade e a justiça entre as gerações, tendo em conta os diversos âmbitos: ecológico, jurídico, económico, político, cultural"

Isso vai determinar maneiras diferentes de interpretar a realidade, de adaptar-se ao meio ambiente, de viver a vida.

Portanto, o que é bom, certo ou verdadeiro num determinado tempo e lugar, mas pode não o ser num outro lugar.

Somos influenciados por essas diferenças e tornamo-nos diferentes uns dos outros, embora iguais em direitos e dignidade.

O facto de sermos diferentes não nos dá o direito de explorar ou humilhar outro semelhante ou julgar-nos superiores a ele como tem acontecido ao longo da historia humana, em que alguns povos sempre se julgaram no direito de escravizar e assassinar outros povos.

E, de uma certa forma, também entre nós, quando usamos as diferenças para discriminar pobres, mulheres, negros, menores, idosos, deficientes físicos e mentais, povos nativos, etc.

As nossas diferenças, ao contrário de serem motivos de fragilidade da espécie humana, são factores de fortalecimento.

Se fôssemos todos iguais, não seríamos capazes de adaptar-nos aos diferentes meios ambientes do planeta.

A riqueza, acumulada com a super exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra humana, não é distribuída igualmente por todos, mas concentra-se nas mãos de uma pequena parcela de pessoas, que conseguem viver com opulência, enquanto que a grande maioria sofre com a miséria e a má qualidade de vida e do seu meio ambiente.

É bom meditar sobre o que um sábio indígena (Hamawt’a) disse um dia: “O dia em que vocês envenenarem o último animal...quando não existirem nem flores, nem pássaros, darão-se conta de que o dinheiro não se come.”

A defesa da ecologia não está dissociada, portanto, da luta pela justiça social e pela melhor distribuição da riqueza.

Não há nenhum mérito numa luta em defesa da natureza que exclua ou deixe em segundo plano as lutas sociais e democráticas, pois é absurda a situação em que menos de 20% da população do planeta vive com luxo e desperdício, consumindo 80% das reservas naturais disponíveis, enquanto que a imensa maioria dos seres humanos vive mal.

Mais de 1/3 - 26% desses passa fome ou de desnutrição, e 3/4 – 60% não têm acesso adequado a água e casa condignas.

A minoria privilegiada do planeta, ou seja 20% da populaçao mundial, na sua quase totalidade de habitantes de países do chamado mundo desenvolvido, produzem um impacto nas reservas de recursos naturais 25 vezes superior ao dos habitantes dos países em desenvolvimento.

Isto tem que fazer pensar-nos.

Portanto, não é verdade dizer que todos destróiem o planeta.

A responsabilidade pela destruição não pode ser igual para todos, pois não é igual o poder de destruir, muito menos o acesso aos frutos desse assalto contra os recursos do planeta.

Este poder está concentrado nas mãos de uma pequena parcela de indivíduos.

Urna minoria, que na sua maior parte é egoísta e ambiciosa, que se acha no direito de continuar a explorar os recursos naturais do planeta e a mão-de-obra dos trabalhadores para acumular lucros avultados em pouco tempo, o mais rápido possivel ao mesmo tempo em que investe todo o esforço do trabalho e os recursos do planeta, não para superar a miséria e injustiças, mas para outros fins menos nobres como, por exemplo, a fabrico de mais armas e arsenais nucleares.

Só o que já existe de armas nucleares dá para destruir o planeta 40 vezes.

A espécie humana, infelizmente, está dividida em explorados — a grande maioria —, e exploradores, que é uma minoria.

Antes os exploradores utilizavam armas, correntes e chicotes para dominar outros povos.

Hoje usam a dívida externa, a dependência tecnológica, as economias transnacionalizadas, a cumplicidade com as elites, a corrupção, a divulgação dos valores dos exploradores através do monopólio dos meios de comunicação social como se fossem valores positivos e universais, para que os explorados não queiram libertar-se, mas, ao contrário, anseiem alcançar o mesmo padrão de vida dos seus dominadores.

E, quando isso não acontece, não culpam os seus dominadores, mas a si próprios, por acharem que não tiveram sorte ou por não terem estudado o suficiente.

Além disso os países ricos e industrializados do Primeiro Mundo enviam para os países pobres a sua tecnologia suja e o seu lixo perigoso a pretexto de gerar empregos e desenvolvimento ao mesmo tempo que divulgam princípios e preocupações ecológicas e acusam os países pobres de destruírem as florestas e o meio ambiente numa atitude no mínimo hipócrita.

Carta Encíclica “Caritas in veritate” “Caridade na Verdade” em 29.06.2009 - "A proteção do ambiente, dos recursos e do clima requer que todos os responsáveis internacionais actuem conjuntamente e se demonstrem prontos a agir de boa fé, no respeito da lei e da solidariedade para com as regiões mais débeis da terra"

Melhor fariam se mudassem o seu estilo predatório, opulento e egoísta de vida, transferissem tecnologia limpa e despoluidora para os países pobres, investissem mais na eliminação da miséria e do analfabetismo e menos em arsenais bélicos e nucleares.

Apenas 10% do que se gasta com armamentos daria para eliminar a fome e a miséria em todo o mundo.

O sistema de ensino que devia formar cidadãos críticos e conscientes, faz o contrário, auxiliando na domesticação do aluno a pretexto de prepará-lo profissionalmente para uma vaga inexistente, já que o mercado de trabalho está sujeito às regras económicas e não às educacionais.

Na base dessa exploração estão valores culturais e espirituais que deram origem a sistemas económicos em que o egoísmo, a ambição, a inveja, a intolerância, a prepotência, a competitividade desmedida, foram elevados à categoria de virtude.

Mede-se o sucesso de alguém não pelo que ele representa como ser humano, mas pelo dinheiro que tem no banco, pela casa, pelo tamanho da sua piscina, pelas viagens que faz ao exterior, pela quantidade de jóias, pelos carros que tem.

Mede-se a pessoa pelo que tem e não pelo que ela é…

Cultua-se, assim, a competitividade em detrimento da solidariedade, o desperdício em lugar da economia, ainda que, para atingir tais objectivos, seja preciso poluir o planeta, destruir ou desperdiçar recursos naturais e ecossistemas, subjugar outros povos, explorar trabalhadores, subverter os próprios sentimentos.

Não é por falta de consciência ambiental que o planeta é destruído, mas por uma ética distorcida, como a de julgar a nossa espécie superior as demais, superior até à própria natureza, com direito, portanto, de subjugar, explorar, prender, matar, poluir, a fazer o que nos apetece como se estivéssemos acima de tudo isso, como se não pudéssemos ser atingidos pelas pedras que nós próprios atiramos ao ar.

05.04.2011 - Bento XVI em entrevista ao jornalista Peter Seewald para o livro O Sal da Terra “[A] poluição do ambiente exterior que observamos é o espelho e o resultado da poluição do ambiente interior, à qual não prestamos suficiente atenção. Julgo que é também o que falta aos movimentos ecológicos. Combatem com uma paixão compreensível e justificada a poluição do ambiente; a poluição espiritual que o Homem faz a si mesmo continua, pelo contrário, a ser tratada como um dos seus direitos de liberdade. Há aqui uma desigualdade.”

Nós julgamo-nos semelhantes a Deus, mas não fornos capazes de viver em harmonia com os outros seres da Criação, que achamos inferiores a nós.

28.11.2011 - Sumo Pontífice fala a oito mil jovens no Vaticano - “Apelo a um estilo de vida mais responsável a favor da Criação. Estilo de vida que deve começar logo no seio das famílias e na própria escola. É indissociável o respeito pelo ser humano e pela natureza e peço aos jovens para se associarem ao Papa nesta causa, cada vez mais evidente aos olhos de todos.”

Mantivemos durante todo este tempo uma visão da Criação, como se Deus a tivesse criado por um capricho apenas para satisfazer os desejos da nossa espécie.

Os resultados não poderiam ser outros, no processo de dominar a natureza; a pretexto de possibilitar o nosso desenvolvimento, fomos nós que nos tornamo-nos feras de nós mesmos.

Um mundo melhor não começa no outro, começa em nós.

“No Oriente, uma pessoa virtuosa não é aquela que procura concretizar a tarefa impossível de lutar pelo bem e eliminar o mal, mas, sim, aquela que mostra-se capaz de manter um equilíbrio dinâmico entre o bem e o mal.” Fritjof Capra

Até aqui a questão era da nossa espécie contra a natureza.

Acreditou-se que, para preservar a natureza, bastava separar porções de territórios naturais, mantendo-os longe da voracidade humana.

Criou-se, então, os parques e reservas florestais ou naturais, e leis cada vez mais severas para impedir que o ser humano poluísse e destruísse a natureza.

E claro que não adiantou muito; afinal, não existe um guarda para cada cidadão.

O desafio agora é encontrar urna nova ética para a nossa relação com a natureza, da qual não somos mais os usufrutuários, mas partes integrantes.

Temos a nosso favor o facto de ainda ser uma espécie no planeta, com possibilidades de aprender e adaptar-se.

E mais: contamos com a incrível capacidade de regeneração natural do planeta, para quem basta conter a destruição e dar uma “mãozinha", que ele recupera-se logo.

O planeta tem grande capacidade para absorver tudo o que fazemos contra ele. Quem não tem somos nós.

Ou seja, as agressões que fazemos contra a natureza voltam-se contra nós próprios, como bumerangues ecológicos.

É preciso que se diga também que não foram as últimas gerações humanas que destruíram o planeta.

Essa responsabilidade precisa de ser dividida com as outras gerações de nossa espécie desde há 90 mil anos, quando surgimos, e passo a explicar.

Durante os primeiros 80 mil anos fomos caçadores e provavelmente responsáveis pela extinção de muitas espécies.

Depois passamos mais de 10 mil anos como agricultores, abrindo espaço para o fogo na natureza para plantar, gerando excedentes de alimentos que permitiram não só o aumento da população humana, com o surgimento de cidades e, com elas, da cultura da vida em sociedade, da civilização, mas também os engarrafamentos, bairros sociais, super concentração urbana etc.

E claro que nos últimos 200 anos exageramos na dose, pois a destruição ambiental passou da escala artesanal para a escala industrial.

Mensagem para o Dia da Paz 2007, Bento XVI problema do "abastecimento energético". "Nestes anos, novas nações entraram decididamente no sector da produção industrial, aumentando as necessidades energéticas. Isto está a provocar uma corrida sem precedentes aos recursos disponíveis", alertava.

Os seres humanos precisam, agora, de alimentar as máquinas com energia e matérias primas gerando imensa quantidade de lixo, poluição, destruição maciça de espécies vegetais e animais, e nem sequer essa super exploração tem contribuído para o desenvolvimento e o bem-estar da nossa espécie como um todo, mas para o enriquecimento de uns poucos povos e indivíduos privilegiados.

Temos contra nós a capacidade de produzir catástrofes ambientais em grande escala, como os incêndios de poços de petróleo na Guerra do Golfo, a explosão da fábrica nuclear de Chernobyl, as bombas atómicas de Hiroshima e Nagasáqui, as queimadas na Amazónia etc., numa escala muito maior do que aquela que a nossa espécie pode suportar, o que coloca-nos na imposição de não errar novamente.

Os 10 maiores desastres ambientais de sempre são:

1. Chernobyl, Ucrânia, 26 de Abril de 1986

2. Bhopal, na Índia, 3 de Dezembro de 1984

3. Golfo Pérsico, 1991

4. Golfo do México, em Junho de 1979 a Março 1980

5. Província de Henan, China, Agosto de 1975

6. Minamata, no Japão 1928-1968

7. Marinduque, Filipinas, 24 de Março de 1996

8. Mina Grande Roménia, 30 de Janeiro de 2000

9. Meda, Itália, 10 de Julho de 1976

10. Tokai, Japão, 30 de Setembro de 1999

O planeta seguramente será capaz de sobreviver sem nós.

Entretanto, nós com toda a certeza, não sobreviveremos se o planeta tiver os seus ecossistemas vitais comprometidos.

O mundo mais pacífico, justo, fraterno e ecológico que imaginamos não começa no outro, muito menos depende unicamente dos líderes políticos e religiosos, mas começa em nós próprios.

Para ser mais preciso, em nós mesmo, neste exacto momento.

HÉLDER GONÇALVES

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